quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sou doula, sou mãe e sou a favor do aborto.

Por muito tempo eu fui contra o aborto.
Eu era contra mesmo antes de ser mãe.
Sempre pensei em uma vida sendo terminada ali.
Então eu virei mãe. E continuei sendo contra o aborto.
Eu me posicionava dessa forma por olhar para os meus 3 filhos e não entender como alguém poderia não querer ter filhos.
E o nome disso é egocentrismo.
Eu estava, de forma egoísta e rasa, nivelando a vida de todas as mulheres que engravidam, pela minha vida.
Então eu ficava lá, do alto do meu pedestal, julgando as pessoas que abortavam, como se todas as mulheres que engravidam desejassem engravidar. Como se todo mundo quisesse mais so que tudo na vida, ser mãe, como eu quis.Como se todas essas mulheres tivessem pais como os meus, dando suporte, amor e condições financeiras para que eu pudesse criar um filho. Como se todo mundo vivesse nessa mesma realidade. Nojento né?  Pois é. Também acho. Me envergonho, por sinal.
Só que a vida passou, e uma das minhas amigas mais amadas e antigas engravidou. Ela já era mãe solteira de uma criança abençoada. Criança esta que ela cria sozinha, com muito esforço e dedicação.
Ela sabia que mais um filho naquele momento iria inclusive dificultar a vida do filho que já existia. E a dela, obviamente.
"ah, mas ela poderia ter evitado....engravida quem quer.."
Mimimi
Nem venham com esse discurso moralista. 
Eu sei que essa bolha é muito confortável, mas a vida real não é assim, minha gente.
Acidentes acontecem (sim, acontecem), e se tem uma coisa que eu aprendi com a maternidade, é que DEVE SER UMA ESCOLHA.
Se a maternidade já não é fácil sendo uma escolha, imagina sendo uma imposição...
Ninguém é obrigada a ser mãe.
Mulheres que abortam não são são monstros.
Todo mundo conhece alguém que já abortou. Só que tem gente que não sabe que conhece. Mas conhece.
E então, depois de eu oferecer todas as saídas possíveis para essa minha tão querida amiga, mesmo assim ela fez um aborto. E eu não estava lá. 
Eu estava lá em cima, lembram? No meu pedestal.
E eu não pude apoiá-la como eu deveria ter feito. Ela não contou comigo. Eu estava ocupada demais julgando-a.
Eu fui uma escrota.
E vi a dor daquela mulher. Vi ela se colocando em uma situação de risco, em uma clinica clandestina, sem amparo nenhum. Vi ela se culpando por não poder realmente ter aquele filho. Vi ela se culpando por se culpar. Vi tudo isso e despenquei. Lá do meu pedestal. 
Despenquei de tristeza por não ter estado lá por ela..logo ela que tantas e tantas vezes ficou ao meu lado sem nenhuma palavra de julgamento.
Ela me fez ver que as coisas não precisam ser assim.
Ela me fez ver que essa decisão não merece julgamento de nin-guém.
Essa grande amiga me fez notar o quão arrogante eu vinha sendo. Me proporcionou uma longa desconstrução interna. Me permitiu hoje ver o aborto como algo que não, eu não faria. Pq eu QUERO ser mãe. Eu GOSTO de ser mãe. Eu NÃO TERIA PROBLEMAS EM VIVER COM UMA FAMÍLIA MUITO NUMEROSA. 
Mas essa sou eu.
Apenas eu.
E ninguém tem direito de me dizer que eu deveria ter mais ou menos filhos.
Assim como ninguém tem absolutamente nada a ver com a decisão de quem aborta.
Não é a favor do aborto? Não faça um.
Acha que essas "vidas" deveriam ser preservadas? Não são vidas ainda!
Deus está vendo?
Está vendo quem acredita nele, ok?
Então, ao invés de fazer campanha contra o aborto, faça melhor: adote uma criança!
Isso sim é ser pró-vida.
Certo?

Beijos a todas, 

KikaDoula

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