domingo, 1 de dezembro de 2013

E está aberta a temporada...

E está aberta, oficialmente, a temporada de festas de final de ano.
Faltando apenas 24 dias para o Natal ,esse é o momento dos últimos ajustes para aquela viagem gostosa de verão, daquela esticadinha na praia para pegar também o ano novo pulando ondas, aquela coisa toda que não tem quem não ame.
Quem nunca né?
Agora pergunta quem sempre. Quem, quem??? Vamos ver se você adivinha.
Se todo mundo curte um final de ano na praia, no campo, no(complete aqui com qualquer lugar bacana), você acha mesmo que seria diferente com o seu obstetra?
Ah, imagina, vão me responder as gestantes.
O meu obstetra não. Ele sabe que completo 40 semanas na virada. Ele vai ficar por aqui sim.
Aham....tá bom.
Será mesmo?
Pois eu digo, parafraseando o blog “mulheres empoderadas”, que está aberta, oficialmente, a temporada das cesarianas desnecessárias. Das desculpas esfarrapadas, das gestantes enganadas, dos partos roubados.
Se você completa 40 semanas de gestação por agora, abra os olhos!
Fique esperta!
Se sua gestação, que até agora estava ótima, começou a ficar perigosa; se sua placenta, que até agora vinha nutrindo seu bebê, começou de repente, a envelhecer; se seu bebê, que estava  se desenvolvendo  normalmente, começou a ficar grande demais para um parto normal, querida, entenda: seu obstetra está lhe preparando psicologicamente para uma linda viagem natalina. A dele, naturalmente. E o que lhe espera é, adivinhe: um parto roubado.
Agora começa a temporada dos úteros assassinos, dos cordões estranguladores, das placentas velhas, dos bebês gigantes, das mães altas demais, baixas demais, gordas ou magras demais,  estreitas, sem passagem, das gestações arriscadas...
Não. Não se engane. Um obstetra não humanizado não vai esperar o seu trabalho de parto começar. Ele vai lhe fazer acreditar que, como num passe de mágica, o seu corpo não serve mais para abrigar seu bebê.
Vai lhe convencer, covardemente, com um zilhão de termos técnicos, que você não pode parir. Que isso será arriscado. Que você, ao insistir com essa ideia, estará colocando seu filho em risco.

Não estou aqui para apedrejar cesarianas eletivas. Não é esse o meu papel. Não perderia me tempo com isso.
Estou aqui para lembrar a todas as gestantes que QUEREM UM PARTO, que estar prestes a ganhar bebê nessa época do ano  é tarefa para as fortes, para as determinadas, para aquelas que não tem medo de, agora, a essa altura do campeonato, mudar de GO.
Seu médico ainda não falou sobre parto? Ele prefere que você deixe esse assunto para ele resolver? Ele diz que “ se tudo der certo” ele lhe acompanha em um parto normal?
Querida, seu médico é , sem sombra de dúvidas, um cesarista.
Sendo assim, não tenha medo! Busque informações, engula textos sobre as reais indicações de cesarias! Se empodere!
Não permita que lhe roubem esse momento tão sublime!
Não caia em qualquer desculpa!
Quando seu filho estiver pronto, seu trabalho de parto CERTAMENTE vai começar!
Acredite no seu corpo, e acima de tudo, certifique-se que seu médico é, realmente, a favor de um parto normal.
Tente perceber quantas gestações “arriscadíssimas” existem em vésperas de feriados e finais de semana.
Tente buscar dados que revelem quantos bebês nascidos por cesarianas ficam internados em UTI’s após essas datas...
Será mesmo que gestantes de dezembro são menos capazes de parir?
Serão os astros? A numerologia? O cosmos?
Pense nisso...
Fica a dica!

Abraços a tod@s,
KikaDoula


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Talita e suas fraldinhas- por um parto com amor

Sei que já fiz isso aqui antes, mas sem nenhum constrangimento, venho aqui mais uma vez pedir ajuda em nome de outro alguém.
Antes pedi colaboração de todos pelo nascimento do Raul, filhote da Débora.
Ela vez vaquinha, vendeu gorrinhos de crochê, se virou em mil e conseguiu levantar o valor para pagar a equipe de seu tão sonhado parto domiciliar.
Agora peço pela Talita.
A Talita é uma mulher doce, serena e convicta.
Tão logo eu plantei a semente do parto domiciliar no seu coração, a semente brotou.
Ela vai ter sua menina em janeiro, e está na busca por um nascimento digno, rodeado de amor e intimidade, como os nascimentos devem ser.
Então ela teve a ideia genial de, com a ajuda de sua mãe que é costureira, produzir fraldinhas de pano, para vender e arrecadar pelo menos parte do valor  do parto.
São produtos lindos, feitos com muito amor e que vão ajudar uma menininha amada a nascer no aconchego de seu lar.

Essas são algumas das fraldinhas da Talita:




 Deixo aqui também o contato dela, para quem quiser colaborar:

Cel: 51 84849303

ou 51 94656933

E ainda o perfil no facebook:

https://www.facebook.com/talita.scaramussa


Conto com a ajuda de tod@s!!!!!


Beijo grande

KikaDoula

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A chegada de Yan pelos olhos da mãe, Letícia

Acordei às 5h do dia 20/10 sentindo cólicas fracas e um pequeno enjôo. A alegria já se instalou no coração, pois sabia que estava perto o grande dia, mais um sinal... Como já estava sentindo sintomas parecidos a 2 semanas, procurei não me empolgar muito, mas curtir cada sensação da proximidade de ver meu Yan.
Fomos para minha mãe e lá comecei a sentir que o trabalho de parto poderia começar a qualquer momento. Minha alma já pressentia tudo, mas minha mente ainda estava como criança curiosa esperando a chegada! As cólicas continuaram bem leves até que às 16h e 15min iniciou a cólica mais forte já com tom de parto.
Sem avisar meus pais, fomos pra casa eu, Deivid (meu esposo) e Inaê, minha filha de 3 anos. Eu era só alegria, entusiasmo e vigor. Esperei mais umas contrações e liguei pra Adelise. Ao me preparar para a saída, senti  um cheiro de mãe preta (imagem e cheiro que já me acompanham a tempos). A Inaê comeu tudo bem direitinho e fiquei tranqüila, pois ela participaria e já estava recebendo as orientações necessárias do divino para receber seu maninho amado.
As contrações foram aumentando de intensidade e eu já entrando instintivamente na respiração, soltando o ar durante a dor e percebendo que aliviava bastante. Pedi um abraço para o Deividson durante a contração e senti alívio também. Pude comprovar que a liberação de ocitocina é grande aliviadora da dor mesmo!!!
Chegamos na casa da Adelise, local planejado para o parto, onde me sentia segura e cuidada com todo amor e carinho, me senti em casa.
Após a oração para o sucesso do parto, as dores ficaram mais e mais intensas. Foi quando junto com a dor saiu um grito, como vindo de um lugar dentro de mim pouco conhecido! Um grito implorando colo: Mamãe!!!!!!!!!!!!!!!!!! E abracei o Deivid que me dava suporte.
Descobri um movimento que me aliviava a dor me abaixando de cócoras e balançando durante a contração, o que fazia com que o bebê descesse mais rápido. A respiração solta e a vocalização foram essenciais, foi quando senti o cóccix abrir e Adelise me disse que ele desceu mais um pouquinho.
Sentia a natureza manifestada em meu corpo, abrindo espaço para esse novo ser e em mim realizando a experiência do renascimento. Em algumas contrações experimentei vivê-las de forma positiva e deu certo. Durante o gemido, experimentei fazer um EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEÊ (de Viva!!!!!!!!!) e procurei sorrir, foi um momento marcante do parto ... a dor aliviou bastante.
Me senti embarcada nessa experiência e ao mesmo tempo podendo cocriar, me apropriar e estar no controle, podendo fazer escolhas, principalmente a de aceitar o que o poder da natureza me mostrava.
Deivid, meu companheiro de jornada... pensei muito nele ... na nossa história e no quanto deveria pensar que aquilo que sentia era por nós... não só por mim... mas pra trazer nosso amado filho...  A sensação de solidão passou... a sensação de medo também...
A imensa dor partindo a alma e purificando tudo o que precisava para receber meu filho Yan.
Logo logo, após perceber que a bolsa havia se rompido vi que estava perto. Quando caiu aquela água no chão como uma bexiga me deu uma sensação esquisita.... tipo pânico!!
CONFIA, CONFIA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Adelise, cantou "Eu vi mamãe oxum na cachoeira, sentada na beira do rio, colhendo lírio, lírio........ em seguida me levou para o chuveiro, amada, irmã, amiga, guia, mãe..... sempre me orientando e amparando. Guiada pelo poder do Altíssimo fui para o chuveiro...
A água me incomodada um pouco, tive a sensação de estar sem paradeiro, a dor era intensa e mal sabia que já estava muito perto. Foi quando me agachei para receber a próxima contração e senti que a cabeça já podia estar por ali.... já na saída.
Minha natureza me disse que sim...  E eu duvidei, quando a próxima contração me pegou de jeito, veio a vontade famosa de fazer cocô e Yan apontou... Estava nascendo, assim como quem me dizia: É mamãe... sou forte e decidido, acompanho o fluxo e se tu não me acompanhar eu vou... Vou, Faço e Realizo!!!
E foi a assim que Yan veio ao mundo às 23h. Com toda a força, cumprindo a missão, exalando cheirinho de amizade e cumplicidade! Papai e Inaê estiveram presentes recebendo Yan com todo o carinho e naturalidade.
Viva a vida!!!!!!!!!!!!!! Viva!!!!!!!!!!!! Viva e viva!!!!!!!!!!!!

Letícia de Freitas Bragaglia Sbardelotto

A chegada de Yan, por Adelise Noal

NASCIMENTO De YAN, Parto na Água
...Gira, gira criancinha, gira, na ciranda do amor...
                                                                 Padrinho Alfredo
Nasce Yan... kin 250 do cachorro elétrico branco, onda encantada 20 da estrela amarela, último giro dentro do tzolkin, no castelo verde do encantar:
Ativo com o fim de amar, vinculando a lealdade, selo o processo do coração. Com o tom elétrico do serviço, sou guiado pelo poder da intemporalidade. Sou um kin polar. Estabeleço o espectro galáctico branco.
Na manhã do dia 20/10/2013 acordo com um sonho onde uma voz dizia: nasceu! Logo a tarde, em torno das 17hs, Letícia entra em trabalho de parto e se prepara junto com seu marido e sua filha para vir até minha casa, onde já estava combinado, seria o parto. Quando chegaram, por volta das 21hs, fizemos nossas orações,  Santo Daime, abrindo o trabalho espiritual. Embaixo da pitangueira, rodeada de flores, um recanto encantado do jardim, onde letícia escolheu ficar apoiada por Deividson, até o rompimento da bolsa e assim derramou sobre a terra as águas que banharam e nutriram seu bebê durante a gestação. Por ser bailarina, Letícia percebia que a dor era mais suportável com o movimento do quadril, ia embalada e embalando a descida de Yan.
Na sequência, fomos até o banheiro para relaxar e aliviar um pouco a dor do final da dilatação com água morna na região lombar. Ali no chuveiro, como quem se entrega a força das águas de uma cachoeira, vai percebendo a descida  a partir das entranhas profundas, lentamente a cada contração.  Letícia preenchia o espaço inteiro, o lugar pequeno e reservado do box do banheiro.  De cócoras apoiada na parede com água escorrendo em sua barriga e períneo se dá conta de que não consegue mais se mover dali. Toca a cabecinha de seu filho coroando!!!  Entramos no período expulsivo.  E eu, na abertura do box também agachada recebia os respingos de água e sentia como quando chegamos bem próximo de uma queda dágua.  Mais uma contração... vejo que é preciso desfazer duas circulares de cordão para que livre, Yan possa completar o último movimento do despreendimento... Peguei-o... e logo devolvi-o aos braços de sua mãe. Nasceu com pouco tonus muscular, a cor da pele revelava o pequeno sofrimento que tivera no trajeto do nascimento gerado pelas duas circulares de cordão. Porém rapidamente recuperou-se com manobras simples de reanimação. Apgar no primeiro minuto 7 e 10 no quinto minuto. Durante todo período expulsivo e nos minutos que se seguiram ao nascimento, ficamos Letícia, Yan e eu na "água corrente". Assim nos primeiros minutos de vida, nos braços de sua mãe, Yan recebe seu primeiro banho!!! Momentos de puro êstase!!!
... é um segredo, é um tesouro que agora recebes, desta chave de ouro... ( P. Alfredo)
No meu imaginário tudo estava se passando em um clarão da mata sob a luz da lua cheia, nas águas limpas e sagradas da natureza intocada. Quando tomei consciência do meu corpo sentia tremores que se irradiavam por todas as partes como se estivesse saindo de um estado de transe.
 Uma luz branca preenchia o ambiente. Um parto com a presença constante do elemento água!
Letícia e Yan saem do box, aquele espaço transformado em local sagrado e natural e se acomodam no sofá para e realização do terceiro período do parto, que demorou 1h e 20 min. Massagens, compressas, orações. Deividson aplicou Okiyome (técnica da Mahikari, que é um movimento religioso japonês, trasmitido pela imposição das mãos com o objetivo de levar luz, harmonia, saúde para a pessoa que recebe). Não houve necessidade de sutura no períneo.
Terminado o trabalho de parto , hora de examinar o recem-nascido. Peso - 3670  gramas, comprimento - 52 cm, PC - 36cm, Pt - 34 cm. Saudável ao exame.   Roupinhas escolhidas pela maninha InaÊ que esteve presente e acompanhou todo processo. Durante  a espera da saída da placenta pode fazer várias perguntas conforme sua curiosidade de menina de 5 anos. Observou a placenta, o cordão umbilical, suas funções na gestação, mostrou seu espanto em ver que a barriga ainda persistia depois do nascimento!
Uma frase profética que só a pureza de uma criança tem, ela disse:
-"o Beijamim é uma estrelinha e o Yan vai ficar..." A lembrança do outro  irmão no giro da roda da vida que trouxe um novo irmão!!!
Neste parto pude observar como a função percepção bem desenvolvida é de valioso auxílio para interpretar os movimentos internos da descida da apresentação até o meio externo e os passos que se deve dar conforme esta leitura sutil da natureza.
"...São infinitos os campos da percepção. A percepção, aqui, não é apenas o que percebemos, mas o ato de perceber como um todo - a interação entre a consciência, os orgãos sensoriais e o campo sensorial ou os objetos da percepção... Na tradição de Shambala, uma tradição secular, e não- religiosa, as percepções sensoriais são vistas como sagradas, boas por natureza, um dom natural dos seres humanos, são fonte de sabedoria. Graças a extraordinária amplitude da percepção, temos possibilidade de nos comunicar com a profundidade do mundo - o mundo da visão, o mundo dos sons - o vasto mundo.
... Ir além da interpretação pessoal, deixar que a grandeza entre em nossos corações por meio da percepção. Quando captamos numa única percepção o poder e a profundidade da grandeza, descobrimos que estamos invocando a magia. Para nós, a magia não é um poder não-natural sobre o mundo dos fenômenos; trata-se antes da sabedoria primordial, da sabedoria inata, no mundo tal qual ele é. A sabedoria do espelho cósmico." ( Shamballa, A trilha Sagrada do Guerreiro - Trungpa rinpoche)
Por um dia minha casa foi impregnada pelo clima de uma casa de parto, com grande alegria um parto natural, simples e sagrado como é nossa vida em essência aqui na terra.
"A vida humana natural valiosa torna-se preciosa quando aproveitamos as condições favoráveis de nosso renascimento com a motivação de atingirmos a liberação e beneficiarmos todos os seres."            (A Roda da Vida, Lama Padma Samtem)
Parto assistido por Adelise Noal - médica e parteira e Kika - doula

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Maternidade, paternidade e carreira profissional (Blogagem coletiva para o Femmaterna)

Quando soube da blogagem coletiva do Femmaterna, sobre carreira x maternidade, achei que ia ser tranquilo escrever sobre. Só que não.
Comecei e deletei diversas vezes. Umas racionalizando, outras chorando...e foi quando percebi que minhas escolhas ainda doem. 
Admito.
Coloquei minha primeira filha na escolhinha aos 4 meses recém completos.
Não tive escolha(será?).
Eu estudava e era bolsista na universidade, e dependia desse dinheiro para pagar as nossas contas.
Não era o dia todo, eu tentava compensar nos finais de semana, mas se estão se perguntando se "tudo bem", digo prontamente: NAO. Não ficou tudo bem. Não me orgulho. E sim, na segunda e na terceira vez que fui mãe, fiz diferente.
Primeiro queria esclarecer que esse não é um post de julgamento.
Aqui eu estou falando exclusivamente das MINHAS experiências como mãe. Das MINHAS  culpas.
Se pra você foi tranquilo, ok...sem problemas.
Para mim não foi.
Eu sofri muito.
Não posso mensurar o quanto minha filha sofreu, mas se foi perto daquilo que eu senti, foi gigante.
Cada vez que eu tinha que deixar minha menina na escola, era um suplício. Eu chorava litros. Todos os dias, sem parar, sem me acostumar, sem achar que tava tudo certo.
Era meio turno apenas, mas não me perdoo por ter perdido aquele tanto de descobertas que o tempo não me trará de volta.
Sei que minha filha é pequena, sei que ela ainda vai precisar de mim em muitos momentos, sei sei sei.
Mas sei também que quando engravidei pela segunda vez, percebi que tudo o que eu achava que era importante para minha filha(e agora para meus outros filhos também) era fruto de uma cultura capitalista, que empurra mulheres para o mercado de trabalho (quando tudo que elas desejam na vida é lamber suas crias) para consumir, consumir e consumir.
Sei que, para muitas mulheres, isso não se trata de escolha, e sim de sobrevivência.
Sei também que no nosso país, o governo não nos proporciona a possibilidade de estar em casa, de exercemos plenamente nossa maternidade, de amamentar o tempo que gostaríamos, de exercer com dedicação plena o nosso melhor papel.
E para essas mulheres, meu abraço apertado.
Hoje eu mudei a minha vida em prol dos meus 3 filhos.
Ainda na segunda gestação, larguei uma quase completa faculdade de direito, fui tocada por uma vocação que dormia e hoje trabalho como doula.
Adapto meus horarios, junto com meu marido, para que ambos possam se realizar profissionalmente sem delegar nossos filhos a ninguém.

Não é fácil sabe? Ficamos exaustos, acabados, sem tempo para quase nada, mas bem felizes.
Meu marido também aderiu a paternagem, e abandonou uma longa caminhada profissional para ficar mais tempo com a família, redirecionando toda sua vida.
As contas aumentaram, o padrão de vida baixou, mas ganhamos muito.
Digo, sem exitar, que hoje somos ricos.
Riquíssimos, aliás.
Não perdemos um dentinho que nasceu, um passinho que foi dado, uma conquista, uma aflição a ser dividida, nada. 
Conseguimos inclusive, resgatar coisas que tinham ficado pra trás com nossa filha mais velha. Acompanhamos cada momento da vida de nossas crianças.
E isso, PARA A MINHA FAMÍLIA, foi o melhor caminho.
Sugiro que cada um busque o seu, e durma em paz com suas escolhas.
E com seus filhos.
Beijos a todxs...

domingo, 13 de outubro de 2013

Com a palavra, a parteira (Adelise Noal)...

RELATO DE DOIS TRABALHOS DE PARTO DOMICILIARES
Com fé perfeita e inabalável
Com persistência e escrupulosidade
Trabalhe com serenidade pela felicidade dos outros”
                                                                                           Shantideva
Dois partos domiciliares em sequência: 30/09 e 01/10 2013. Um na cidade de Rio Pardo e outro em Viamão. Duas mulheres com cesarianas prévias, decididas na segunda gravidez a passarem pelo processo da forma mais natural possível, se prepararam para um trabalho de parto e parto em casa. Evoluíram juntas até completarem 41 semanas de gestação. Uma totalmente entregue a sua fé partilhada na doutrina do Santo Daime, outra com a fé projetada na força da sua natureza feminina intrínseca.
"... onde vivemos não é necessariamente onde vivemos fisicamente, mas sim, como vivemos no reino da psique. Não importa onde eu vivo, minha jornada é o meu lar. Re-membrar a psique é a experiência de se estar presente à constância do mundo interno, aquele que nos move a partir de dentro e que subsequentemente faz a história pessoal e cultural no mundo externo. Isso é voltar para casa, estar em casa na jornada, onde a psique é nossa companhia constante por entre paisagens sempre diferentes...." ( Jamis Hollis em Nesta Jornada que chamamos Vida)
30/09, na onda encantada 18 do enlaçador de mundos branco. Kin 230: cachorro Solar Branco
” Pulso com o fim de amar, realizando a lealdade, selo o processo do coração, com o tom solar da intenção. Sou guiado pelo poder da transformação.”
Nasce Soloína, filha do sol, às 7hs e 32 min, em Rio Pardo.
Peso – 3070 gramas / Comprimento – 47,5 cm. Apgar 9 no primeiro minuto e 10 no quinto minuto.
Vem trazendo as águas profundas das entranhas materna na qual estava envolvida permitindo sua mais suave expulsão. Logo nos braços maternos, logo mamando, logo completando o ritmo fisiológico da liberação de ocitocina.
Cânticos de louvor e orações saudaram a chegada da vida nova!

01/10, na onda encantada 18, do enlaçador de mundos branco Kin 231 – Macaco Planetário Azul
Aperfeiçoo com o fim de brincar, produzindo a ilusão, selo o processo da magia, com o tom planetário da manifestação. Eu sou guiado pelo poder da autogeração.”
Nasce Raul às 4hs e 29 min da madrugada. Apgar 9 no primeiro minuto e 10 no quinto minuto.
Peso - 3170 gramas / Comprimento – 48,5cm
Piscina, bola, cadeirinha, objetos usados neste parto que trouxeram algum tipo de conforto, todos escolhidos pela gestante. Sua família, bem como sua doula, estiveram presentes durante o trabalho de parto, seu filho de 3 anos participou também, pois acordou no início do período expulsivo e pode ver seu irmãozinho nascer.
Neste parto pude sentir o chamado círculo de fogo que acompanha a descida do bebê na sua passagem final em direção ao meio externo. Minhas mãos que davam apoio ao períneo, sentiram e “ouviram”a explosão radiada de fogo no momento em que a cabeça se despreendeu...
Mesmo sem nenhuma crença, o trabalho de parto nos remete a uma instância muito acima da condição humana comum. O homem arquetípico mostra sua face! Como um montanhista ao escalar uma alta montanha, entramos na via. Cada passo, mais alto nos leva na direção da experiência do êstase. As referências concretas e cotidianas nas quais estamos contidos tornam-se evanescentes. Na montanha, o ar rarefeito, obriga o corpo a soltar suas amarras intelectuais, emocionais. No parto um influxo do chamado hormônio do amor: a ocitocina dá um tom semelhante. No cume chegamos juntos, todos os participantes do trabalho de parto. Levados pelas mãos da natureza, como alpinistas envoltos um a um numa extensa corda, ligados... A corrente que faz do trabalho de parto um trabalho de equipe. Atuação material e espiritual integradas numa totalidade.
Perfeitos como uma obra de arte, nascem... menina e menino, Soloína e Raul!
A arte da vida que agora aqui está!

Descrito por Adelise Noal

A chegada de Soloina

Quero muito falar aqui sobre um parto que a Adelise e eu acompanhamos em Rio Pardo, um dia antes do parto do Raul.
Mas como a história não é minha, e sim da família,  assim que estiver pronto, posto aqui o relato deles.
Desde já quero dizer que foi uma honra, uma manifestação do Sagrado, estar com a Tati e com o Carlos. 
Soloina é uma princesa e jamais vou esquecer a intensidade e o acolhimento daquele parto.
Aguardem, foi lindo!


A chegada de Raul


Dia 30 de setembro de 2013, 41 semanas. Acordei com contrações irregulares, incômodas mas não muito doloridas como já sentia há tantas semanas. Nada de novo, nada fora do comum, exceto pelo fato de ter que sair de casa pra fazer uma ultrassom àquela altura do campeonato. Avaliar bem estar fetal. Raul estava bem, eu sabia, eu sentia.
Durante o exame, tive contrações mais longas. Meu corpo trabalhava.

A tarde, consulta com a obstetra. 2 cm, colo médio, 80% apagado. Será que isso era um bom sinal? “O que faremos se nada acontecer até o final da semana?” Não queria induzir, não queria aumentar a chance de outra cesariana. Tudo era confuso e, no fundo, tinha um pouco de receio de chegar às 42 semanas e passar das 42 semanas. 
Sentia que o fantasma do “corpo defeituoso”, resultado da cesárea anterior me assombrava, tinha medo de não entrar em trabalho de parto. Todas as outras “companheiras de barriga” já haviam parido e eu ainda não.
Sabia que o medo era sem fundamento – toda mulher entra em trabalho de parto - mas a sensação que tinha era de que ficaria grávida para sempre. 
Por outro lado, ficava pensando se estava mesmo preparada para parir. Queria Raul! Mas sentia um frio na barriga em pensar em como seria, o que aconteceria, como lidaria com a dor.

A tarde seguiu, Willian foi trabalhar. Fui ao supermercado comprar pão e frutas. As contrações mais longas, mais incômodas, irregulares. Tudo certo, já tinha visto isso antes.
Tive dois “falsos trabalhos de parto” com contrações até de 2 em 2 minutos. 
Não iria me iludir, não dessa vez. “vai parar, são pródromos”.

Enquanto bebia uma xicara de café com leite, percebi que as contrações vinham com mais frequencia. Devo anotar? Vou me iludir, de novo… Vai parar.
8 em 8 minutos. Avisei Willian dizendo “Amor, estou com contrações mais longas. 8 em 8”.
”Vai parar, eu sei que vai, são pródromos” Olhei para o relógio: 18 horas.


O início

Deitada ao lado de Vicente me deixei levar pela ideia de que, talvez não fosse demorar muito para Raul chegar. Fiquei pensando nos acontecimentos. Dessa vez não avisaria ninguém sem ter certeza, não me anteciparia. Fui pega de surpresa várias vezes pelas contrações que pareciam mais fortes e com um intervalo menor.
Assim que Vicente pegou no sono, fui tomar um banho quente. Se fosse mais um “alarme falso”, tudo pararia.

Com a bola embaixo do chuveiro, deixei a água quente cair sobre as costas. À luz de velas, fui relaxando. O vapor subiu rapidamente e tomou conta do banheiro inteiro.
Rebolava, movimentava o quadril e só pensava que seria maravilhoso se aquilo tudo continuasse, mas eu não podia acreditar.
No vidro do box embaçado escrevi “Vem, Raul!” e fazendo um coração ao redor dessas palavras fechei os olhos e tentei me entregar. Fosse o que fosse, não devia estar muito longe agora.

Saí do chuveiro morrendo de vontade de comer o abacaxi que havia comprado. Enquanto cortava a fruta, comecei a marcar as contrações no celular. Uma veio, respirei fundo, deixei passar. Logo outra, uma cólica mais forte, expira profundo, passa. 3 minutos.
Outra, passa, 3 minutos. Isso nunca havia acontecido, minhas contrações eram irregulares. Agora estavam totalmente ritmadas. A cada uma, a duração aumentava, mas a frequência sempre em 3 minutos. Logo havia uma longa lista e eu senti uma onda de esperança tomando conta de mim. Seria trabalho de parto? De verdade? Iria acontecer comigo? Mesmo? 

Fiquei andando de um lado pra outro da sala, feliz, nervosa, ansiosa, radiante. Mandei mensagem pro Willian avisando que, talvez ele tivesse que voltar pra casa.
Tremendo, resolvi ligar para minha doula. “Kika, tô com contrações ritmadas há um bom tempo. Já tomei banho, não passaram. Mas ó, deixa que eu te aviso, quero observar mais”.
Tudo o que eu não queria era que – isso aconteceu uma vez – ela viesse e tivesse que voltar sem que nada tivesse acontecido.
Não tinha medo de incomodar as pessoas, é o trabalho delas. Mas tinha medo de me decepcionar de novo, não queria transtornos.

Fico controlando por mais uma hora. 3 em 3. Definitivamente, alguma coisa está acontecendo.
Digo pro Willian e pra doula: “VEM!”. Ao contrário da outra vez em que tudo começou, não fui limpar e arrumar nada. Só tinha vontade de entrar no quarto, fechar a porta e esquecer do mundo. Não me importava a bagunça, a desorganização. Só queria ficar em paz.

Sem pressa, coloquei uma roupa confortável, desliguei as luzes, acendi velas e um insenso.
A cada contração, sorria, respirava fundo e rebolava. 
Liguei o computador e selecionei a playlist que havia feito para o parto. Ouvindo as mesmas músicas que ouvíamos enquanto Raul foi concebido, fui entrando numa espécie de ritual. A cada música, uma contração ou duas. Fechei os olhos e me deixei levar.






As pessoas foram chegando. Minha mãe, minha irmã. Willian. Pedi que ele ligasse para as outras pessoas avisando. Logo depois chegaram Kika, minha doula, Lu, fotógrafa e Nicole que também fotografou e acompanhou o momento. Talvez fosse verdade, Raul chegaria em breve.








Eu estava muito feliz! Feliz, feliz, feliz!
As contrações eram um pouco doloridas mas nada demais. Quando vinham, fazia movimentos com os quadris, Willian me ajudava a agachar ou simplesmente, descansava apoiada na bola em cima da cama. Eu estava curtindo demais tudo aquilo, todas aquelas sensações. Tinha um pouco de medo do que viria, sabia que estava fácil daquela maneira porque era o início.
Nunca tive medo da dor, nunca temi o que poderia sentir num trabalho de parto. Mas sabia que seria intenso, que aquilo cobraria de mim algo que nunca vivenciei.
Pedi que chamassem Adelise, minha parteira. Mesmo que não fosse agora, as coisas estavam diferentes.





Ali, naquele quarto com pouca luz, Willian e Kika se revesavam em cuidado e apoio. Kika fazia massagens na lombar, me sustentava nos agachamentos, me lembrava de comer, beber, de apenas desfrutar daquele momento com Willian. Ele me dava o apoio necessário pra seguir em frente. Abraços, beijos, massagens, idas e mais idas ao banheiro, força na parte mais dolorida das contrações. Dizia o certo na hora certa, estava atento aos meus sinais.
Trabalhamos juntos. Eu, Raul e Willian.









A transição

De repente, eu já não encontrava posição confortável durante as contrações. Comecei a ficar muito incomodada com aquela dor que vinha cada vez mais forte.
A piscina já estava cheia o suficiente para entrar. A temperatura era ótima, mas eu sentia que preferia ficar de pé. Willian entrou comigo. Tentei achar uma posição mas era impossível. 
Eu bem que resisti a ideia da piscina durante toda a gestação. De certa forma, eu sentia que não conseguiria ficar ali. 








Estava todo mundo na sala e eu percebi que muitos olhares me deixaram um tanto acuada.
Voltei pro quarto. A parteira estava a caminho, me disseram, mas eu já estava ficando impaciente. Kika me deixou sozinha com Willian e deitei junto dele para tentar descansar. 
Era impossível. A dor não deixava. Sentei na cama e tentei me entregar. O corpo teimava em ficar tenso, a cabeça me dizia “Só quero que isso passe logo…” e eu lembrava “não, não racionaliza, se entrega, se entrega” e no final da contração eu já estava vocalizando, relaxando.
Kika me perguntou se queria voltar pra piscina, que as dores aliviariam bastante. Aceitei, mas pedi que todas as pessoas saíssem, pedi pra desligarem as luzes e nada de música: tudo começava a me irritar.

Na sala vazia, Willian e Kika cuidavam de mim, dentro da água. Tentei achar ali o alívio que tantas pessoas falavam mas não encontrei. Tudo foi ficando nebuloso, saía de mim no auge das contrações. Eu não sabia, mas estava no famoso período de transição, o mais difícil de todos.
Meus medos começaram a vir a tona. Perguntei pra doula se agora era mesmo trabalho de parto, se não eram pródromos. Não podia acreditar que eu havia mesmo entrado em trabalho de parto, era muito surreal. 

A parteira chegou. seria uma da manhã, duas? Não sei…
Quis fazer um exame de toque. 6 cm.
Me surpreendi! Achei que seria menos, que estivéssemos ainda muito longe.
Pedi pra ir pro chuveiro, levei uma cadeirinha de madeira do Vicente. Nela, deixei a água quente cair no corpo. O momento mais dramático de todo o trabalho de parto.
Sentada naquela cadeira, era como se tivesse de frente para mim mesma, olho no olho, num desafio. Era uma conversa silenciosa sobre limites, superação, medos.
O vapor subia e eu não conseguia fazer mais nada além de vocalizar em cada contração.
Disse para Willian – sem vê-lo, eu já não “via” mais ninguém – “Acho que não vou aguentar”.
Não ouvi a resposta.
Lembro de ver Kika entre o vapor e dizer “Parece que vou morrer!” e ao fundo, ouvir “Mas é isso mesmo. No parto morremos um pouco a cada contração. Tu já morreu várias vezes nesse parto”. Mentalmente, finalizei a frase, “pra renascer no final. Sei disso”.

No intervalo, desejava simplesmente não sentir de novo aquela dor. Mas ela vinha, eu podia sentir. Suas nuances, seus sinais. A dor vem devagar, sem pressa. 
Começa num ponto e como uma onda, te toma por inteira. Entre elas, tudo era calmaria.
Durante, eu cheguei a pensar que entendia quem pedia anestesia, embora não tenha pensado em pedir em nenhum momento. Era aquilo mesmo que eu queria sentir, foi o que desejei durante tanto tempo. Era um ritual de passagem, sem dúvida. Era uma preparação.
Eu queria viver e sentir tudo aquilo que me foi tirado na primeira vez.
Além disso, eu sabia que qualquer intervenção significava transferência e que isso me deixaria mais próxima de outra cesárea. Algo que eu com certeza não queria.

Não sei quanto tempo fiquei no chuveiro. Willian ao meu lado o tempo inteiro.
Eu realmente estava na partolândia, só vocalizava. A razão não existia mais.

Ouvi minha doula sugerir que fizéssemos agachamentos no quarto. Eu não podia imaginar como fazer isso. Não conseguia me mexer. De repente, uma frase mágica: “para ajudar Raul a nascer”.
Era isso, eu só pensava em ajudar o processo, em chegar mais próximo do fim. Queria Raul, queria ficar em paz, queria renascer. 
Num impulso, numa retomada de consciência, doida, repentina, numa força que eu não imaginava ter, levantei e fui para o quarto no intervalo das contrações. Ficamos em um cantinho que havia pedido para Willian forrar com um tapete de EVA, logo no início do trabalho de parto, não sei bem porque.
Lá, nos abraçamos e nas contrações, sentia mesmo muita vontade de ficar de cócoras.
Fizemos esse movimento uma, duas, três, quatro vezes. 
Numa delas, Willian diz “sangue”. 


O expulsivo

Instintivamente olhei para baixo, vi um pouco de sangue no chão. Recobrei a consciência e perguntei se aquilo era normal. Ouvi que sim, era normal, mas a parteira quis fazer outro exame de toque. Me pedindo desculpas, diasse que estavamos próximos, muito próximos do momento final, que só faltava um pouquinho.
Ela não quis me dizer quanto de dilatação tinha naquela hora e eu agradeço por isso, não fazia diferença. 

Senti ainda mais força. Se estávamos próximas do fim, teria que ser mais forte do que nunca.
Continuei agachando, dançando. Quis a cadeirinha do Vicente, precisava de um apoio na parte mais difícil das contrações.
Elas me tomavam totalmente, eu mal conseguia pensar. 
Abraçada em minha doula, senti uma muito forte. Instintivamente sentei na cadeira e a bolsa estourou, estourou mesmo. Um jato de líquido amniótico lavou o chão.

Daí em diante, não tenho mais noção de tempo, cronologia, quem fez o que e onde estavam.
Lembro da doula chamar a parteira que veio rápido. Lembro de uma movimentação, pessoas chegando e eu ali, entregue, agarrada a Kika, vocalizando.

Então, cheguei a parte mais incrível, mais intensa de todo o parto. 
Eu sentia meu corpo se abrindo para Raul passar. Ele descia a cada contração e eu sentia minhas pernas perderem a força e me obrigarem a agachar.
Enquanto minha parteira massageava a lombar, ele foi descendo, pouquinho a pouquinho.
Logo, senti o primeiro puxo.
Que sensação maravilhosa! A dor ia embora e única coisa que eu sentia era meu corpo fazendo força sozinho. As contrações vinham e no final, sentia essa força que me fazia sentar na cadeira e simplesmente deixar a natureza fazer seu trabalho. Eu já não controlava mais nada.
Um grito vinha com cada um deles. Um grito visceral, profundo, lá de dentro. Um grito de bicho, de fêmea, algo jamais experimentado. 

Eu já não pude mais levantar. Gritei e meu corpo fez uma força enorme. Ouvi minha parteira dizer que ele estava ali. Coloquei a mão entre as pernas e senti a cabecinha de Raul.
Emocionada, senti mais uma força enorme tomando conta de mim. Ouvia vozes ao fundo dizendo que ele estava nascendo, que estava vindo.
Sentia a presença de Willian, da minha doula e da parteira, mas não via ninguém.
Senti uma ardência muito muito grande e na hora lembrei do círculo de fogo. Tudo queimava, mas a sensação era muito boa. Eu sentia Raul escorregando.
Num grito imenso que acordou Vicente, numa força que jogou meu corpo pra trás, às 04 e 29 da manhã, Raul nasceu. 


Como se tivesse saído de um transe, olhei para as mãos da parteira. Raul chorava alto assim como eu. Logo o trouxe junto ao corpo.
É impossível descrever. O corpinho escorregadio, aquele cheirinho de bicho…
Eu só conseguia pensar: Nós conseguimos! Conseguimos, Raul!
Willian ao meu lado, Vicente perguntando o que estava acontecendo… Nossa família toda unida num momento mágico.
Sentia o amor tomando conta daquele quarto, a emoção pairava, era quase palpável de tão perceptível. O tempo parou por alguns instantes. 
Raul veio ao mundo sem violência, na penumbra. Amado, cuidado e respeitado.

Ele nasceu, nós renascemos. Toda a luta valeu a pena.







A parteira sugeriu que deitássemos na cama para a expulsão da placenta. Ela estava vindo bem devagar. 
Fiquei ali deitada, namorando Raul, conhecendo. Logo percebi que ele era parecido comigo, ao contrário do que imaginei/sonhei durante toda a gestação. Sonhava sempre com um menino mais moreninho do que Vicente e no entanto, seus cabelos eram mais claros, assim como os olhinhos.
O apgar, 9/10. Nasceu com 3.170 kg e 48,5 cm. Ele parecia tão pequenininho, tão delicado.
Mal abriu os olhos logo depois de nascer. Mamou um pouquinho e logo dormiu, parecia cansado depois de todo o trabalho para nascer. Dormiu gostoso em meu colo.




Ficamos cerca de quatro horas aguardando a expulsão da placenta. Tentamos várias coisas. Ocitocina via spray nasal, acupuntura, agachar, rebolar, fazer força. Contrações não faltavam.
A placenta ficou retida. O cordão era muito fino, a parteira responsavelmente não quis tracionar. 
Depois de muita conversa, de muita reflexão, resolvemos encontrar a obstetra de backup no hospital.

Como jamais levaria Raul para àquele ambiente, para ser submetido a todo tipo de intervenções, ele ficou em casa. Foram três horas de internação que pareceram uma eternidade.
Um procedimento simples, poderia ter sido liberada em dez minutos, segundo a obstetra.
Mas, hospitais tem protocolos. Hospitais tem regras. Não há a individualização do atendimento.
Ali, mais uma vez, comprovei o porque da minha escolha.
Raul ficou em casa e metade de mim também. Foi muito, muito difícil.
Ele ficou bem com a avó. Seguiu dormindo o tempo todo e quando cheguei ainda estava.
Veio direto para o peito e assim ficamos até o outro dia que amanheceu lindo, ensolarado, primaveril, com uma temperatura amena.

Vicente acordou perguntando “Cadê o Raul? Cadê o bebezinho?”. Fomos todos para a sala, vovó chegou em seguida dando “bom dia” a todos. Preparamos um café enquanto Vicente corria no quarto para pegar um livrinho para ler para o maninho. Depois, pediu para segurá-lo no colo.
Pedi para que ele sentasse bem direitinho e coloquei Raul nos seus braços.
A carinha de felicidade dele era linda e contagiante. Tinha agora um companheiro para sempre.









Agradeço ao Willian, por toda a força e amor, por ter confiado, compreendido e apoiado sempre. Sua serenidade foi fundamental. Muito, muito obrigada pela família linda que construímos (e que continuaremos). A Vicente, por me ensinar a maternar, por me mostrar sempre o que é essencial e importante, por me ensinar a amar sempre mais. Obrigada, filho!
A minha mãe, por ter cuidado de tanto, por ter crescido comigo nessa caminhada em busca de um parto digno. Por aceitar minhas ideias e apoiado nossas decisões.
A minha irmã e meu pai por terem vivido tudo isso de maneira natural, compreendendo melhor dia após dia, por deixarem cair os preconceitos.
A Kika, doula querida que não me deixou desistir do parto humanizado. Que me deu forças pra seguir em frente e acreditar que era possível. Obrigada pela leveza, pela sutileza, pelo apoio e pela amizade, por agir e sugerir nas horas certas e respeitar nosso espaço. 
A Adelise Noal, minha parteira, pela delicadeza, por simplesmente, assistir ao parto, sem intervir, pelo lindo trabalho. Obrigada pela paciência, pelo comprometimento, especialmente na parte mais dificil. 
A Claudete Borges pela simpatia e pelo belo trabalho, por auxiliar de uma maneira tão eficiente e discreta.
A Lu, por registrar esse momento tão especial de uma maneira que não interferiu em momento algum. Um talento enorme! 
A Nicole querida, que nos acompanhou desde sempre, que filmou um dos momentos mais especiais de nossas vidas e no fim de tudo, ainda ajudou em tanto! Muito obrigada!

Obrigada a quem torceu, a quem divulgou, a quem contribuiu na vaquinha, a quem comprou gorrinhos, participou da rifa. Agradeço a cada um, a cada uma, por terem ajudado a tornar esse desejo uma realidade.

Muito obrigada!



Kika Doula: Não foi difícil acompanhar essa família. Foi leve, doce, intenso, inteiro. A Débora já sabia tudo que eu pudesse contar sobre partos humanizados quando eu a conheci. Ela já tinha lido tudo que existia. Ela não precisava de informação. Ela precisava de fé. De cuidado. De carinho. De alguém que acreditasse junto com ela que, no oitavo mês de gestação, o jogo ainda não estava perdido, ainda dava tempo de correr atras. E ela correu. Corremos juntas.
Quanta emoção!
Gratidão eterna!