quinta-feira, 30 de julho de 2015

Todos merecem uma explicação...



Perceberam que eu desapareci?
Pois é.
Desapareci mesmo.
Mas criei vergonha na cara e vim aqui contar o que aconteceu.
Foram tantas coisas...
Senta vai, que a história é longa.
Estávamos nós, meu marido e meus filhos, felizes e contentes, morando em Porto Alegre, quando mais um inverno chegou.
Todo inverno no sul me faz surtar. Sur-tar.
Minha filha maior, Maria Valentina, agora com 7 anos, é asmática crônica.
Usou as famosas "bombinhas" desde os 6 meses de vida.
Em crises, altas doses de corticoides.
Isso REALMENTE me perturbava. Odeio medicar meus filhos. Prefiro homeopatias, tratamentos alternativos,alimentação bacana para uma boa imunidade...mas enfim, precisava, eu dava.
Paralelo a tudo isso, tinha em meu peito uma vontade latente de me aprofundar no universo da parteria. Eu queria entender, ver, vivenciar, sentir, tudo o que acontecia em partos com a atuação de parteiras tradicionais(aqueeelas de antigamente, sabem? Que partejavam no interior, nas zonas rurais de difícil acesso,as parteiras indígenas...tudo isso).
Sendo assim, sagitariana que sou, fiz minhas malas, juntei a minha família, e lá fui eu morar no interior do extremo sul da Bahia.
Quando cheguei na cidade do Prado, fiquei encantada.
Uma pequena cidadezinha, com ruas de chão batido, onde as pessoas se conhecem pelo nome, as crianças vão de bicicleta para a escola, onde se usa chinelo o ano todo e se vai na beira do mar no final da tarde molhar os pés...
Um pequeno paraíso perdido.
Lá, encontrei tudo que eu precisava naquele ano: calor, sol, mar, sossego e uma infinidade de parteiras com muita sabedoria, que mais pareciam feiticeiras com suas ervas e chás, suas rezas, seus rituais...
Era tudo tão lindo e intenso que fica bem difícil descrever.
Em lugares como esse, pasmem, já existe a cultura da cesariana também.
Quem é rico, fino, da "elite", tem seus filhos na cidade do lado, com dia e hora agendados com meses de antecedência. Nada de novo, não é?
Mas no Prado existem também as comunidades rurais e suas parteiras. E tem também uma linda comunidade indígena que vive por la.
E foi nesses lugares que eu aprendi que o partejo tradicional é uma arte. Não tem como definir de outra forma.
Essas parteiras saem de suas casas quando alguém vem correndo avisar que tem vizinha "sentindo que vai parir". Pegam suas bicicletas, suas lanternas, suas sacolas de ervas e panos e imergem em um processo tão intenso que chegava a me deixar meio drogada de emoção.
Elas usam técnicas, passadas de mãe para filha, de geração para geração, onde os instrumentos são as mãos. 
E nascem bebês cefálicos, nascem os pélvicos(esse vai ser preguiçoso, dizia dona Maria. Nem para virar ele se anima...), nascem os gemelares, nascem todos que quiserem nascer.
Com quantas semanas? Quase  nunca se sabe com exatidão.
Pré-natal é algo pouco considerado nessas comunidades (não façam isso em casa, ok, meninas?), e saber o sexo do bebê antes do parto é fora de cogitação.
A esmagadora maioria dos partos ocorre com a parturiente na posição de cócoras, o alívio para dor é feito com chás de raízes locais, e para maior proteção do períneo, as parteiras o seguram pressionando-o com cuidado, com a ajuda de um pano embebido de óleo de coco ou gordura de carne de carneiro derretida(sim. isso mesmo).
Se existe laceração?
Não que eu tenha visto. 
Os bebês são imediatamente colocados no peito para mamar, e a placenta sai logo em seguida, com a ajuda de uma compressa fria pressionada levemente em forma de massagem na barriga das mães.
Cada situação vivenciada nesse lugar tão lindo e misterioso, me transformou em uma pessoa diferente, em uma profissional diferente.
Vi e aprendi coisas que jamais imaginei aprender.
Mas depois de um ano na Bahia, de toda essa energia e experiências lindas, era hora de voltar.
Quando decidimos isso, percebemos que gostaríamos de voltar para perto de nossa família (pra quem não sabe, eu morei 13 anos em Porto Alegre, cidade que amo, mas sou natural de Santa Maria).
E lá fomos nós fazer as malas novamente, mas dessa vez em direção às nossas raízes, nosso chão.
Ahhh que sensação maravilhosa poder tomar um café com minha mãe no final da tarde, poder contar com minha família para criar meus filhos, poder fazer parte dessa teia de mulheres que tanto faz diferença na maternidade real!
Hoje residimos então em Santa Maria, e eu retomei a faculdade de enfermagem, pois depois de tudo isso vivido, não existe mais qualquer dúvida, meu destino é o partejo.
Não estou doulando aqui.
Estou muito focada em terminar a faculdade (pq naturalmente não consigo dizer não quando me pedem para acompanhar um parto- #birthlover -, e no ritmo que eu andava, jamais conseguiria me formar).
É um passo de recuo para o próximo passo ter um alcance maior.
Difícil, doloroso, mas necessário.
Minhas sinceras desculpas pelo desaparecimento, e nada impede que em casos isolados, eu acompanhe partos por aqui. Mas a maneira frenética que eu trabalhava não vai ser possível agora.
Espero continuar com textos bacanas, com trocas enriquecedoras aqui no blog, e aberta, sempre, a novas experiências.
Obrigada por estarem comigo até aqui.
Abraços, 
Kika Doula


obs) Nenhuma técnica aqui citada tem embasamento ou referência científica, foram apenas práticas de algo que faz parte da cultura local.





sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O anjo Lorenzo (relato de Bruna Port)


*Perder um  bebê...
É como acordar e ver que tudo não passou de um sonho;
É  como voltar de marcha ré todo o caminho já percorrido;
É voltar a ser uma pessoa comum, depois de um tempo se sentindo especial;
É ter que esperar passar o tempo para sentir-se melhor;
É sentir que tudo ficou sem graça;
É saber que isso acontece com muitas pessoas, mas não se sentir aliviada por não estar sozinha;
É sentir solidão por ter se acostumado com a presença dele (mesmo que ainda na barriga) todos os dias;
É procurar a causa da perda, mesmo sabendo que muitas vezes não dá pra encontrar;
É alternar frases de não querer engravidar, com outras de desejar conceber imediatamente;
É ter acreditado que comigo não aconteceria esse imprevisto;
É conhecer mulheres na época da gravidez e vê-las com seus filhos no colo e o seu não estar ali;
É sofrer sozinha apesar do apoio da família e dos amigos;
É ter que encarar de frente a sensação de incompetência;
É ter a paciência de esperar que o destino está guardando;
É sorrir, mesmo o coração estando em pedaços e ter que caminhar com a saudade infinita no peito!*
                                                           
Meu nome é Bruna, tenho 20 anos e sou mamãe do Lorenzo...
Ter um filho sempre foi um sonho pra mim, eu desejava  profundamente ser mãe!
No dia 12 de novembro de 2013 resolvi fazer um exame de sangue, pois já desconfiava da gravidez... Queríamos um filho!
Fui fazer o exame sozinha e as 17h30min do mesmo dia estaria pronto...
Voltei ao laboratório no horário combinado, minha mãe estava junto. Peguei o exame e saímos...Na calçada eu peguei o envelope e abri, não acreditei no que estava lendo: EU ESTAVA GRÁVIDA! Foi o melhor dia da minha vida (nesse mesmo relato, eu falo sobre o pior dia da minha vida) sem dúvidas!
Ligamos para Deus e todo mundo! Era felicidade que transbordava! Eu estava em êxtase!
Marquei a primeira consulta do pré-natal, mas como demoraria muito, (a consulta era pra começo de dezembro) fiz uma ecografia particular... Minha tia me acompanhou, pois meu marido estava trabalhando e minha mãe tinha compromisso! No dia 21 de novembro ( 2013) vi meu filho pela primeira vez! A emoção tomou conta! Eu estava com 5 semanas e 2 dias de gestação! Tudo normal!
A primeira consulta do pré-natal não foi muito boa... a médica foi grossa e quando mostrei a eco que tinha feito por conta, ela ficou mais brava ainda! (Talvez ela não estava num dia bom)!
Como só estava de 5 semanas no dia da eco não foi possível visualizar os batimentos cardíacos.. E por isso ela não quis me dar a carteirinha de gestante! Muito irônica, deu a entender que a gestação poderia não vingar...
Me pediu exames!
Uma amiga me apresentou ao mundo humanizado! E mesmo estando recém grávida, já sabia o que queria.....EU QUERIA PARIR!
Marquei a segunda consulta com outro médico, e para ele levei os resultados dos exames... Estava tudo ótimo!
No dia 15 de janeiro de 2014 fiz a segunda eco... Estava com 13 semanas e 2 dias , e meu filho já estava com 7,1 cm!
Antes de começar a fazer a eco, perguntei ao médico se ele conseguia ver o sexo e ele disse que era pouco provável pois a gestação era muito recente...
Depois de me passar todas as informações sobre meu anjo, o médico me olhou e disse que eu estava esperando um GURI! Um príncipe estava a caminho!
Aí começou a luta para achar um nome para o bebê... Se fosse menina já tinha nome escolhido, Luísa! Mas para menino não tínhamos pensado em nada!
Meu marido queria Emanuel ou Augusto, mas eu não gostava desses nomes!
Minha mãe deu a sugestão de colocarmos Enzo, meu marido não gostou. Então lembrei do filme  O ÓLEO DE LORENZO e pimba! Já sabia que nome escolheria! LORENZO!
Maaaas, meu marido não queria esse nome!
Eu insisti! Persisti! Bati o pé mesmo!
E ele dizendo que não queria...
Comecei a postar no face que o nome dele seria esse e meu marido ficou uma fera quando viu!
Brigamos!
A cada postagem, era uma briga!
Com o tempo ele se acostumou... e de vez em quando eu escutava ele chamando o Lo pelo nome!
Entrei em vários grupos sobre Parto Natural/Humanizado no face e me empoderei o máximo que pude...
Então resolvi ir atrás de uma doula... Não foi fácil! Comentei sobre a minha procura com uma doula de São Paulo (que havia conhecido em um grupo do facebook)... e mesmo estando tão longe, ela me ajudou muito... Me apresentou a Kika!
Flá,eu te amo eternamente! (Eu espero que ela leia esse relato,kkkk)
Na primeira conversa com a Kika...me apaixonei!
Maaaaas, ela morava longe... E depois de uma conversa com o marido dela, decidiu que iria me doular! Ebaaa! (Não seria justo ela recusar, eu já havia me apaixonado! rsrsrs)
Minha gestação evoluía tranquilamente!
Minha barriga crescia rapidamente!
Em abril, já com 25 semanas de gestação, comecei a sentir leves contrações (que por vezes me baixavam a pressão) ,comentei com meu GO e ele me disse que era normal! Comentei também que Lorenzo andava preguiçoso, que pouco sentia ele mexer... Segundo o GO... estava tudo normal!
Pedi uma guia para fazer outra eco!
Como minha próxima consulta seria no dia 2 de maio, deixei para fazer a eco na mesma semana... Assim os dados estariam atualizados no dia da consulta!

Dia 30 de abril (eis aqui o pior dia da minha vida) fui fazer a terceira eco...
Minha mãe me acompanhou!
Entramos na sala, o médico me perguntou com quantas semanas estava... 29!Respondi!
E ainda brincou: - Mexendo muito? (o bebê)
E eu: - Ultimamente tem mexido pouco...
Silêncio na sala...
Começamos a fazer a eco e o médico me fazendo inúmeras perguntas...
Quanto tempo faz que não senti ele mexer? Sentiu ontem? Perdeu líquido? Teve dor?
E mais silêncio...
A notícia de que minha placenta estava seca, de que meu filho estava com a cabeça encaixada (pronto pra nascer) e de que ele já estava sem vida me deixou paralisada! Sem reação! Morta por dentro!
Meu mundo desmoronou ali! Chorei! Chorei muito!
Minha mãe ligou para o meu marido e enquanto isso, fomos para o hospital!
Estava um dia chuvoso, triste, melancólico!
Dei entrada no hospital as 17h13min... A médica veio me examinar, 1 dedo de dilatação! Meu corpo já estava expulsando o Lo de dentro de mim!
Tirei a roupa ,os brincos, tudo... E vesti aquela roupa de hospital!
Fiz lavagem! Fui para o soro!
Coletaram sangue para fazer exames!
Tudo tão rápido, tão agressivo!
A médica introduziu um comprimido na minha vagina para dilatar e acelerar o trabalho de parto!
As horas não passavam e eu não sentia dor nenhuma!
A noite passou... tão fria... tão triste!
As 6 e meia da manhã a médica vem me ver, pergunta se estou com dor ( não, eu não estava) e introduz outro comprimido!
As 7 horas trocou o plantão...e junto com o outro médico, vieram as primeiras contrações (as mesmas dores que sentia em casa, que o meu GO havia dito que era normal)!
Ao longo da manhã elas ficavam mais doloridas! Mais intensas! Já estavam ficando insuportáveis!
Eu estava entrando na partolândia! Sim, eu estive na PARTOLÂNDIA!
E a partir daí, perco a noção das horas...
Lembro de estar com muita dor, lembro de estar sozinha, lembro de pedir ajuda(sim,  eu estava com medo e não queria ficar sozinha) ! Lembro da enfermeira que vinha medir minha pressão de vez em quando, MUUUUUITO de vez em quando!
E lembro de ouvir a voz de outra enfermeira dizendo que havia comido demais... e a que estava me MONITORANDO foi almoçar!
A enfermeira que tinha voltado do almoço entra no quarto pra me ver, senta na cama ao lado e me pergunta se estou com dor...nesse momento sinto o círculo de fogo e digo pra ela que meu filho tá nascendo!
Ela então vai verificar e sai apressada pra chamar o médico...
Já dava pra ver a cabecinha do meu anjo...
O médico entra no quarto junto com 4 enfermeiras, várias tesouras e diz que não dá tempo de levar para a sala de parto!
Manda colocar ocitocina no meu soro pra agilizar e diz que posso fazer força sem gritar, pois meu bebê era pequeno...
E na primeira contração depois de colocar a ocitocina, Lorenzo nasce!
Graças a Deus não deu tempo de ele usar aquelas tesouras...
O médico me diz pra rezar pra minha placenta sair inteira, caso contrário teria que fazer curetagem!
E na segunda contração, ela nasce! Intacta! Perfeita aos olhos humanos!
Lorenzo veio ao mundo no dia 01 DE MAIO DE 2014 as 13h20min.
Pesando 720 gramas e com 29,4 cm!
Meu guri! Meu príncipe! Minha vida!
Meu filho tão amado estava ali sem vida e eu não podia fazer nada...


Me orgulho da mulher que o Lo me tornou, da mãe que ele me transformou...
Maravilhas ele trouxe pra mim!
Me fez forte!
Me empoderou (Se não fosse ele, eu não teria tido tantos aprendizados)
Me fez conhecer pessoas incríveis!
Me fez parir!
EU PARI!
Eu consegui... enquanto muitos diziam que eu não aguentaria a dor!
E a causa da minha perda? Não conheço!
Prefiro acreditar que era pra ser assim, estava escrito, era inevitável!
Os planos de Deus são perfeitos e se Ele permitiu que acontecesse é porque tinha/tem um propósito na minha vida!
Gratidão a todos que de alguma forma me ajudaram no processo da perda!
E aquelas pessoas que conheci por causa da gravidez, quero levar pra sempre junto comigo!

                                                                                                                     27 DE FEVEREIRO DE 2015






quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sou doula, sou mãe e sou a favor do aborto.

Por muito tempo eu fui contra o aborto.
Eu era contra mesmo antes de ser mãe.
Sempre pensei em uma vida sendo terminada ali.
Então eu virei mãe. E continuei sendo contra o aborto.
Eu me posicionava dessa forma por olhar para os meus 3 filhos e não entender como alguém poderia não querer ter filhos.
E o nome disso é egocentrismo.
Eu estava, de forma egoísta e rasa, nivelando a vida de todas as mulheres que engravidam, pela minha vida.
Então eu ficava lá, do alto do meu pedestal, julgando as pessoas que abortavam, como se todas as mulheres que engravidam desejassem engravidar. Como se todo mundo quisesse mais so que tudo na vida, ser mãe, como eu quis.Como se todas essas mulheres tivessem pais como os meus, dando suporte, amor e condições financeiras para que eu pudesse criar um filho. Como se todo mundo vivesse nessa mesma realidade. Nojento né?  Pois é. Também acho. Me envergonho, por sinal.
Só que a vida passou, e uma das minhas amigas mais amadas e antigas engravidou. Ela já era mãe solteira de uma criança abençoada. Criança esta que ela cria sozinha, com muito esforço e dedicação.
Ela sabia que mais um filho naquele momento iria inclusive dificultar a vida do filho que já existia. E a dela, obviamente.
"ah, mas ela poderia ter evitado....engravida quem quer.."
Mimimi
Nem venham com esse discurso moralista. 
Eu sei que essa bolha é muito confortável, mas a vida real não é assim, minha gente.
Acidentes acontecem (sim, acontecem), e se tem uma coisa que eu aprendi com a maternidade, é que DEVE SER UMA ESCOLHA.
Se a maternidade já não é fácil sendo uma escolha, imagina sendo uma imposição...
Ninguém é obrigada a ser mãe.
Mulheres que abortam não são são monstros.
Todo mundo conhece alguém que já abortou. Só que tem gente que não sabe que conhece. Mas conhece.
E então, depois de eu oferecer todas as saídas possíveis para essa minha tão querida amiga, mesmo assim ela fez um aborto. E eu não estava lá. 
Eu estava lá em cima, lembram? No meu pedestal.
E eu não pude apoiá-la como eu deveria ter feito. Ela não contou comigo. Eu estava ocupada demais julgando-a.
Eu fui uma escrota.
E vi a dor daquela mulher. Vi ela se colocando em uma situação de risco, em uma clinica clandestina, sem amparo nenhum. Vi ela se culpando por não poder realmente ter aquele filho. Vi ela se culpando por se culpar. Vi tudo isso e despenquei. Lá do meu pedestal. 
Despenquei de tristeza por não ter estado lá por ela..logo ela que tantas e tantas vezes ficou ao meu lado sem nenhuma palavra de julgamento.
Ela me fez ver que as coisas não precisam ser assim.
Ela me fez ver que essa decisão não merece julgamento de nin-guém.
Essa grande amiga me fez notar o quão arrogante eu vinha sendo. Me proporcionou uma longa desconstrução interna. Me permitiu hoje ver o aborto como algo que não, eu não faria. Pq eu QUERO ser mãe. Eu GOSTO de ser mãe. Eu NÃO TERIA PROBLEMAS EM VIVER COM UMA FAMÍLIA MUITO NUMEROSA. 
Mas essa sou eu.
Apenas eu.
E ninguém tem direito de me dizer que eu deveria ter mais ou menos filhos.
Assim como ninguém tem absolutamente nada a ver com a decisão de quem aborta.
Não é a favor do aborto? Não faça um.
Acha que essas "vidas" deveriam ser preservadas? Não são vidas ainda!
Deus está vendo?
Está vendo quem acredita nele, ok?
Então, ao invés de fazer campanha contra o aborto, faça melhor: adote uma criança!
Isso sim é ser pró-vida.
Certo?

Beijos a todas, 

KikaDoula

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A chegada de Caetano...

Caetano nasceu dia 7 de março, sem dúvida foi a experiência mais intensa e profunda que já vivi. Nossa, faz 1 mês, mas só agora consegui assimilar, sentar e escrever sobre essa noite/dia. Foi um “tsunami” de emoções. Já adianto que não foi o parto que eu sempre imaginei que seria. Eu achava, desejava e mentalizava que seria um parto rápido e indolor… doce ilusão, doeu, foi longo, mas foi LINDO e transformador…!
No dia 6 de março completamos 38 semanas, foi uma gravidez tranquila, graças a Deus. Um pouco cansativa no final, pois nos mudamos com 7/8 meses, mas MARAVILHOSA, é uma delícia curtir a gravidez com o filho mais velho!
Pelas 17 horas o marido veio me buscar para irmos na obstetra, Dra. Karla Simon Brouwers. Do caminho do meu apartamento até o carro, eu senti umas contrações fortes. Mas até então não sabia dizer se eram realmente fortes, sabia que eram mais doloridas do que as que eu vinha sentindo. Quando entrei no carro falei: ” É hoje que nasce nosso filho, amor!” E ele riu! É engraçado, mas acredito que sabemos quando é a hora! Nunca tinha dito/pensado isso antes…mas parecia que algo dentro de mim já sabia que era aquele dia que Caetano chegaria. #emoção
Antes da consulta fomos no laboratório fazer o exame de estreptococos stractos, exame importante para detectar a presença de bactéria, e quando é positivo, temos que usar antibiótico (soro) durante o trabalho de parto.
Chegando na Dra. Karla conversamos e fizemos o exame do toque, já estava com 2cm de dilatação, e o bebê encaixado. É… o corpo estava se preparando para a hora do nascimento. Eu queria conhecer logo o outro guri da minha vida, mas queria descansar o máximo, até o dia do nascimento! #coisasdemãe Mesmo com 2cm e bebê encaixado, sabia que poderia demorar semanas ainda, poderia ser como o Antônio que nasceu de 40 semanas!
Assim que saí do consultório as contrações ficaram cada vez mais fortes e frequentes. Mas ainda não queria calcular o tempo, queria apenas sentir, deixar fluir.Então fomos ao shopping comprar mais um pijama para a maternidade, e tentar tirar o foco das contrações… que estavam cada vez mais frequentes, e fortes. Era fato, eu estava em trabalho de parto e no shopping! Me mantive super calma…só esperando a hora dele. Depois de resolvermos a questão pijama fomos buscar minha mãe e o Antônio que estavam na casa da minha avó.
Quando cheguei lá, as contrações ficaram mais fortes ainda. Foi a primeira vez que me deu vontade de chorar (e chorei)! Liguei para a Kika, minha doula querida, e contei o que estava sentindo,e que queria que ela fosse para minha casa para nos ver!
Desde que soube da gravidez, meu desejo era ficar em casa o máximo de tempo possível. Queria sentir as dores, deixar meu corpo agir. Assim que chegamos em casa terminei de arrumar a mala da maternidade e as roupinhas do Caetano! Sim, mãe de segunda viagem deixa tudo para última hora! #soudessas E depois fui para o chuveiro tentar relaxar.
Assim que a Kika(doula) chegou ficamos fazendo uns exercícios na bola, ela fez muitas massagens maravilhosas e ensinou o maridão. Estava tudo tranquilo, eu estava calma, ansiosa, mas calma!
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Começamos a “contar” as contrações, o tempo, a duração… que estavam super regulares, e cada vez mais fortes. Já estavam de 4 em 4 minutos com duração de 40/50 segundos.


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Naquele dia não tinha comido direito, a Kika me sugeriu que comesse algo, para me dar energia no trabalho de parto! Mas nada me apetecia. Até que tive a ideia de comer manga… minha mãe prontamente cortou uns pedaços de manga, me deu uma garrafinha de água de coco e fui em alimentando aos poucos!
Procurava a posição perfeita sempre que vinham as contrações, ora agachava, ora rebolava na bola, ora gemia, ora rezava…! A bola era a melhor posição, onde me sentia realmente confortável e sem dor, mesmo durante as contrações!
Numa das minhas agachadas, adivinha só? Voltou toda a manga… isso mesmo, eu vomitei 3 vezes! Lembro da minha mãe entrar no quarto com balde e rodo, limpando tudo… foi quando vi no rosto dela que estava um pouco preocupada.
Nessa hora achei que estava quase na hora, e falei para a Kika(doula0 que queria ir para o hospital logo. Estava com muitas dores e medos!
Como moramos em Canoas, e o hospital é em Porto Alegre, achei melhor ir logo … demoramos uns 45 minutos para chegar no Hospital Divina Providência. Eu não tenho nada contra hospitais, pelo contrário, é um ambiente que me deixa segura, principalmente estando com minha equipe de parto!
No caminho ligamos para a obstetra, que também foi para o hospital. Assim que cheguei fui para a triagem, eles monitoraram a pressão, os batimentos do baby… até a chegada da médica.

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Esse tempo esperando a Dra Karla passou tão devagar… fiquei sozinha na sala, sem marido, nem doula…até que minha obstetra chegou por volta da 1:30. E logo fez o exame do toque! Claro que eu estava torcendo para já estar com 9cm, quase parindo! #hehehe #aloka #apositiva #polyana Mas na realidade estava com 5cm!
Uhuuu não estava com 9cm, mas já tinha ido metade do caminho! Pensamento POSITIVO e logo estaria com Caê nos braços!
Fomos para a sala de parto, com luzes baixas, ar condicionado fraco, ambiente silencioso… Queria deixar fluir o trabalho de parto, tentar relaxar, sentir as contrações… eu sabia que meu corpo saberia parir!
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As dores ficavam cada vez mais fortes, na minha cabeça, quanto mais forte, mais perto estaria de conhecer o Caetano. Foi quando a Dra Karla fez novamente o exame de toque e já estava com 6cm!
Estava feliz, a dilatação estava evoluindo, porém comecei a me sentir super cansada!!!
Sempre me achei FORTE para dores, porém comecei a sentir muuuuuuuita dor! Algo que não conseguia controlar e já estava deixando me controlar! Já era umas 3 da manhã…
Não conseguia mais caminhar, agachar, rebolar…tinha vontade de dormir! Sério, em pleno trabalho de parto ativo… pode isso? Eu só queria minha cama, um cobertor quentinho, pois sentia muito frio e tremia!
Sempre fui uma pessoa carinhosa, ADORO CARINHO, ADORO ABRAÇO, ADORO BEIJOS… inclusive foi um dos motivos por ter escolhido a Kika para ser minha doula, é o seu jeito fofo de ser, de apoiar! Senti isso no nosso primeiro encontro! Mas na hora do trabalho de parto eu não queria que ninguém encostasse em mim, não queria abraços, nem beijos, queria que acabasse logo! Comecei a me transformar… nem eu me reconhecia, xingava alguém, logo pedia desculpa, mas era mais forte que eu, tudo me incomodava!
Para minha alegria nos mudaram de sala de parto e fomos para uma que tinha chuveiro… ahhh, eu só pensava no chuveiro para relaxar! Tudo que sempre pensei durante a gestação…que o chuveiro seria meu melhor amigo!
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Entrei no chuveiro, mas não consegui relaxar por muito tempo! #pohan A Kika me apoiou muito, estava sempre do meu lado me sugerindo posições para relaxar, fazendo massagens nas costas e me dando força. Algumas vezes nem a escutava, só tinha vontade de gritar…de chorar, de tirar aquela dor de mim!
Eu perdi a noção do tempo, das horas, por mais que queira me lembrar…não vou conseguir! O que sei é que uma mãe que chegou na mesma hora que eu na maternidade, com os mesmos 5cm que eu, pariu às 3:30 da manhã, com a minha médica… e às 3:30 eu estava beeem longe de parir! #hehehe #porqueeunãoparia?
Eu estava cada vez mais cansada, hoje percebo que também estava desacreditada…com medos… Os meus medos que ouvi a vida toda começaram a me atormentar! Estava com medo da tal ruptura uterina após cesárea…medo de morrer e deixar dois filhos! AFFE! Ah, como eu tenho vontade de parir de novo, sei que tudo seria diferente agora!
Até as contrações começaram a espaçar, parecia que o trabalho de parto estava “parando”. Mas as dores não paravam… Então a minha obstetra sugeriu que rompesse a bolsa. Logo eu que não queria intervenções, queria que tudo fosse o mais natural possível, mas já estava há muito tempo em trabalho de parto, queria acelerar o processo, era a hora!
Depois de pensar … topei, e a Karla rompeu a bolsa! Me assustei com o tamanho da “agulha de croché” para romper, gritei de novo, não queria que ninguém encostasse em mim, era mais forte do que eu. Mas deu tudo certo, e aos poucos as contrações voltaram a mil…! Então chorei…chorei de dor, de medo, de cansaço e frustração comigo mesma! Ahhh, como não conseguia parir? E mais uma vez eu rezei e pedi a Deus que me desse forças, que me ajudasse a trazer o guri ao mundo!
Como tive o Antônio de cesárea não queria/deveria induzir com ocitocina, nem fazer anestesia. Mas a DOR ERA MUITO GRANDE, não queria que ninguém encostasse na minha barriga, não queria fazer o exame do toque, não queria agachar, não queria rebolar…queria dormir, precisava dormir! QUERIA PARIR! Foi quando me ofereceram glicose na veia para dar energia, e eu topei! E depois disso, pedi/implorei por anestesia!
A minha doula me lembrou que não queria anestesia, que coloquei no meu plano de parto que não queria anestesia depois dos 5cm. Já estava com 7 para 8cm! Mas eu disse para ela que queria muito anestesia… que precisava descansar um pouco, que precisava não sentir dor, que não estava mais aguentando!
Então a Dra. Karla chamou a anestesista! Foi quando pelas 8:00 eu fiz a anestesia,eu lembro que olhei no relógio e já era de manhã. Dormi até às 8:20, sem dor, foi MARAVILHOSO! Mas quando acordei já sentia todas as dores novamente, acho que a anestesista me enrolou e deu só um pouco, pois pensava que depois de fazer a anestesia nunca mais sentiria dor…. não é assim?
Esses 20 minutos de sono, mais a glicose me deram ENERGIA suficiente para começar a ser a protagonista do meu parto! Resolvi que teria que deixar a natureza agir, mas que teria que fazer minha parte! Já estava mais de 12 horas em trabalho de parto, com contrações regulares… Tinha que fazer alguma coisa para esse guri nascer! O Parto Normal foi minha escolha, e comecei a escutar os profissionais que estavam ali para ajudar! Comecei a agachar para ele descer, já que estava quase toda dilatada, porém ele ainda estava BEM alto. Eu sabia que a melhor maneira para ele descer era agachando durante as contrações, mas era a maneira que eu mais sentia dor… E como era difícil lidar com a dor!
Esse momento eu já não queria mais saber de ninguém, me conectei ao meu marido e começamos a agachar como se fossemos um só… A cada contração ele agachava comigo, me apoiava, falava palavras de apoio, me incentivando…e encorajando!
Por alguns momentos cheguei a pensar que não conseguiria, que parto normal não é para todas…. Estava quase me conformando que teria que fazer uma cesárea. Mas de repente eu estava toda dilatada, porém o bebê continuava alto. OH, CÉUS!
Já era umas 10:00, estava novamente cansada…mas comecei a sentir ele descer! Sempre que agachava, entre as contrações, sentia um líquido escorrendo e ele descendo… Finalmente comecei a sentir a “dor boa”! Aquela dor que você sabe que está chegando a hora. Comecei a perceber a descida dele, e quase sentir ele lá embaixo … Agora eu queria agachar!
Foi quanto fui para a cama de parto, foi a posição mais confortável para mim. Não queria ficar de cócoras, não conseguia relaxar. Mas estava com medo novamente… medo de fazer cocô na frente do marido, da médica e da doula… medo de não conseguir, de não ter força, de não saber o que fazer… e de repente, mandei esse medo embora e resolvi que iria parir! Que iria fazer o que tivesse que ser feito, e comecei a fazer força em cada contração!!!!!!!!!!!!
Cada contração era uma oportunidade a mais de trazer ele ao mundo! Nos relatos que eu li durante a gravidez, e em alguns vídeos que assisti, a mãe fazia 2 ou 3 forças e o bebê nascia. Porém eu já tinha feito mais de 10 forças e nada. A frustração batia a porta novamente. Mas cada vez eu me fortalecia mais, cada vez eu acreditava mais em mim. E de repente só ouvi o marido dizer que estava vendo os cabelinhos dele… que eu tinha que fazer mais força, que logo ele nasceria. Depois disso fiz algumas forças e, de repente, numa força única, na maior força que já fiz até hoje, senti ele sair, senti a cabeça, os ombros e o corpinho saírem ao mesmo tempo!
Caetano veio direto para meus braços! Ele chorou pouco, um choro calmo, sereno. Logo olhou nos meus olhos, acreditem! Parecia que estava assimilando a voz que ouvira durante os 9 meses, e relacionando com o meu rosto. Ficamos durante um bom tempo juntos, e eu ainda sem acreditar que ele saiu de dentro de mim, que eu tinha feito ele sair.  Que eu tinha conseguido!

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Não chorei, só sentia alegria e vontade de agradecer a Deus por aquele momento! Entrei num estado de êxtase! Assim que o coração parou de pulsar o marido cortou o cordão e acompanhou ele com a pediatra.
Ele nasceu medindo 51,5cm e pesando 3.500kg, com APGAR 10 – 10, a cara do Antônio, porém com cabelo mais pretinho! LINDO, LINDO!
Alguns minutos se passaram, estava na hora da placenta sair. Fiquei tensa, pois já tinha lido que a saída da placenta podia ser dolorida. Mas cá entre nós, não dói nada, não tem comparação com o parto e estamos tão extasiadas que nem sentimos direito sair. Pedi para ver a placenta, e até tiramos foto de tão linda que ela é… #hehehehe
A Dra Karla analisou se precisava de uns pontinhos, já que não fiz episiotomia, ela deu uns pontinhos, pois lacerou!
Toda a dor sumiu, era só prazer, era só emoção, era só força! Me senti capaz de TUDO! E tenho essa sensação até hoje, depois de parir me sinto capaz de fazer qualquer coisa! Não precisava provar nada para ninguém, já tinha provado para mim mesma que era capaz de parir!
E hoje só tenho a agradecer por todas as pessoas que fizeram parte desse dia tão especial, que acreditaram em mim mesmo quando eu desacreditei!
Primeiramente meu MUITO OBRIGADA ao Guto, pela família que formamos juntos, por ter sido tão companheiro, amigo e quase ter parido comigo durante o trabalho de parto! Obrigada Dra Karla, minha obstetra pelo profissionalismo, pelo apoio ao parto que eu sonhava, pela paciência e pelo carinho antes, durante e depois do parto! Obrigada Kika, minha doula, pelo carinho, pelas massagens, apoio , fotos, pelo amor ao parto e ao nascimento, por TUDO! Obrigada a anestesista querida que me proporcionou uns minutos sem dor! Obrigada Fê Alves, pelas fotos surpresa do Caê! Obrigada a vocês pelo apoio e paciência comigo, já que demorei 1 mês parra terminar o longo relato de parto. E para quem leu até o final, espero que ele inspire e que muitas de vocês tenham coragem de PARIR, TENHAM VONTADE DE PARIR, mesmo depois de cesárea… é muito possível e foi a melhor escolha que fiz!

Beijos, Angi #descabelada #parideira #feliz
(Angi Simon é autora do blog Mãe de Guri, e quem me indicou a ela foi a Ana Paula Soares, a quem acompanhei na chegada de sua Alice. Doulanda indicando doulanda  tem um gostinho tão especia, sabe? Adorei fazer parte dessa história...Caetano é um amado, e essa família é linda!)
Beijos a todos,
KikaDoula


sábado, 22 de fevereiro de 2014

A chegada de Miguel e o nascimento da Jéssica-mãe

Com 38 semanas ela me procurou, mas foi com quase 39 que nos conhecemos.
Uma jovem gestante, apenas 19 anos, mas cheia de informação de qualidade naquela cabecinha...
Logo chegaria Miguel, e os planos eram ficarmos o máximo possível em casa durante o trabalho de parto, e então irmos ao Hospital Regina(Novo Hamburgo).
E assim foi. 
Estava me preparando para uma visita a outra doulanda, quando Jéssica me mandou mensagem dizendo que estava sentindo algumas "cólicas" desde cedo. Fiquei tranquila, afinal, poderiam ser pródromos. Mas pedi que ficasse atenta aos intervalos das tais "cólicas".
No inicio da tarde, desmarquei a visita e fui pra casa da Jéssica.
Chegando lá, estava sim diante de um trabalho de parto que se iniciava.
Um clima bacana, de intimidade, com os pais da Jéh felizes e ansiosos com a chegada do netinho.
Passamos a tarde entre massagens, contrações, chuveiro, risos, gemidos, aquela vibração de vida chegando.
Quando a Jéh resolveu ir para o hospital, pegamos o necessário e fomos.
Ao chegar lá, ela estava completamente concentrada no tp, e com maravilhosos 6 cm de dilatação!
Ao chegarmos ao C.O. do Hospital Regina, a Jéh foi para a triagem sozinha. Não permitiram a minha entrada. Ela, claro, ficou assustada. A concentração que trabalhamos a tarde toda começou, de leve, a ser minada. 
Então a deitaram para monitoração cardio fetal contínua.
Deitada, sem poder se movimentar ou se agachar nas contrações, as dores ficaram bem mais intensas.
A falta de mobilidade a fez pedir analgesia. 
Quando a enfermeira me chamou para ficar lá com a Jéssica, ela já estava perdendo o controle da dor.
Arrancou tudo e levantou. Momento leoa. Lindo de se ver..rsrsrsrs..
Com aquilo tudo acontecendo, a equipe me mandou sair.
Novamente ela ficou sozinha.
Passado algum tempo, chamaram o pai do bebê e lá foram eles para a sala de parto.
Embora a Jéssica tivesse deixado claro que não queria episio, mesmo assim foi feito, com a alegação de que era "necessário".
E assim chegou Miguel, com 2.745kg, 45cm, as 20:20h do dia 20 de janeiro de 2014.
Quando nos vimos novamente, ela estava na recuperação, e o Miguel amado já estava mamando.
Parabéns, Jéssica, pela busca, pela coragem, pela garra!
Parabéns Miguel, pela mãe maravilhosa que tu escolheu ter!
Obrigada pela acolhida e pela confiança!
Gratidão!!!




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A chegada de Alice, por Ana Paula Soares

PARI, o relato da minha cesárea e do meu parto. É longo, mas quem aguentar até o final ganha um abraço 

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Este não é simplesmente o relato do meu parto. Este é o relato de uma busca, uma conquista. Este é o relato de como, às vezes, nós temos que nos despir dos preconceitos, do senso comum, das mentiras, de nós mesmos, para alcançar o que sempre sonhamos. Este é o relato não somente do nascimento da minha filha, é o relato da minha própria morte e renascimento.

Espero que a minha história toque e inspire pelo menos uma mulher a buscar um nascimento digno para seu filho, mesmo que todo o resto do mundo insista que ela não é capaz.

Não posso começar a falar do nascimento da Alice sem antes falar um pouco do nascimento da Lívia. Engravidei aos 21 anos, uma gravidez desejada, mas não planejada. Estávamos em um momento delicado do nosso relacionamento, mas a Lívia veio pra nos trazer paz, segurança, felicidade. Desde o início, eu dizia querer um parto normal, afinal, a recuperação era mais rápida, o bebê nasceria quando estivesse pronto, era a opção mais saudável pra uma gestante saudável, 1+1=2, certo? Mas não foi bem assim.

Comecei o acompanhamento com a obstetra da família, a médica que fez e acompanhou todos os partos da minha mãe, da minha tia, da minha prima, da minha cunhada. Uma senhora de confiança, que me conhecia desde o útero, que sabia todo meu histórico familiar, uma médica em quem eu confiava, ela não iria me impor uma cirurgia desnecessária, apenas por conveniência. Era nisso que eu acreditava, e era isso o que ela me passava a cada consulta do pré-natal.

Minha gestação foi relativamente tranquila, não tive muitos enjôos, não inchei, pressão sempre ok, tudo caminhava pra um parto normal. Nas minhas poucas pesquisas sobre parto, descobri que existe uma coisa chamada "doula", mulheres que davam suporte emocional pras parturientes, e descobri também que hoje ainda muitas mulheres pariam de cócoras, e que o hospital que eu iria parir tinha uma banqueta especial para isso. Me encantei e comentei sobre o assunto com a obstetra em uma das consultas e lá veio a primeira surpresa: ela detestava doulas, dizia que elas não tinham conhecimento técnico sobre partos e só atrapalhavam o trabalho dela, e ela jamais me deixaria parir de cócoras pois era a posição que mais tinha incidência de "bexiga caída" no pós-parto e dessa maneira ela não conseguiria fazer o "cortinho" (episiotomia) pra ajudar o bebê a nascer... Tudo isso era coisa de "índia" e se eu quisesse parir assim que procurasse outro obstetra, nas palavras dela.
Mas como eu iria procurar outro obstetra naquela altura do campeonato? Com mais de 30 semanas! Como eu iria confiar em outro médico? Decidi aceitar os termos dela pro parto "normal" e continuar assim mesmo. Desencanei de parir de cócoras.

Desencanei de contatar uma doula. Desencanei de protagonizar o MEU parto. A gestação continuou saudável até as 39 semanas, quando ela me pediu uma ecografia. Fiz a ecografia com 39 semanas e 2 dias, numa quinta-feira à noite. A ecografia apontou diminuição do líquido amniótico para 10% do esperado. Perguntei pra obstetra plantonista do hospital se eu deveria ligar pra minha médica ainda naquela noite, e ela disse que não, que poderia esperar até o dia seguinte.

Na sexta-feira, fui à consulta com o laudo em mãos, já com as malas no carro pois eu imaginava o que poderia acontecer. Ao ver o laudo, minha obstetra questionou pq eu não havia ligado e avisado ela na noite anterior, disse que essa diminuição era muito perigosa, que assim como tinha 10% agora, daqui a pouco poderia não ter mais nada, e "vamos pra cesárea hoje, agora! Mas pera, vai dar uma volta no shopping primeiro, e dá entrada no hospital às 19h". Assim foi a minha cesárea de "emergência".

A recuperação da cesárea foi rápida, mas ficou um gosto amargo na boca de não ter entrado em trabalho de parto, de não poder ter dado banho na minha filha nos primeiros dias, de não conseguir levantar sozinha da cama, de não ter vivido essa experiência, de ter ficado tão passiva no momento mais lindo da vida de uma mulher. Eu queria querer e ali morreu um pedaço de mim. Eu sabia que não poderia mais, nunca mais, ter um parto normal, pois era muito perigoso, certamente meu útero romperia no trabalho de parto e eu deixaria meus filhos órfãos. Não é assim que funciona? "Uma vez cesárea, sempre cesárea", era isso o que todos me diziam, inclusive minha obstetra de família, de confiança, que nunca, jamais, mentiria pra mim. Acabei me conformando mais uma vez.

Perto do aniversário de 1 ano da Lívia, comecei a suspeitar que estava grávida novamente. Menstruação atrasada alguns dias, me convenci de que era o estresse do trabalho + o aniversário da pequena. Alguns dias depois da festa, decidi fazer um exame de farmácia, só pra confirmar. Imediatamente apareceram as duas listrinhas cor de rosa. Entrei em pânico. Uma gravidez tão perto de uma cesárea? Uma gravidez com menos de 1 ano de empresa? Dois bebês? Depois de algum choro e muito pensar, consegui aceitar essa nova vida que me foi confiada. Dizem que Deus dá o cobertor conforme o frio, né? Comecei a me preparar psicologicamente pra nova cesárea, pra recuperação com um recém-nascido e uma bebê precisando da minha atenção. Não conseguia engolir o fato de que teria que me afastar do papel de mãe da Lívia por um tempo, até me recuperar o suficiente pra poder dar banho, brincar no chão, pegar no colo meu pedaço de gente. Tudo isso me desesperava um pouco (bastante). Será que não tem outro caminho?

A resposta pra minha pergunta foi dada na primeira consulta com a mesma obstetra da família: NÃO, ela foi muito categórica ao afirmar que eu não poderia ter parto normal tão perto da cesárea, que o risco de meu útero romper durante o trabalho de parto era muito alto, que ela não assumiria esse risco. Junto com essa notícia, ela me deu outra, que me deixou muito perturbada: minha data prevista de parto era 11 de janeiro, o que significava que eu faria 38 semanas entre o Natal e o Ano Novo, e ela estaria de férias no verão. Não poderia assumir meu acompanhamento, nem meu parto. Começou a saga pela busca de um novo obstetra.

Liguei para todos os conveniados do meu plano, consegui apenas duas que atenderiam nesse período. Numa quinta-feira, fui conhecer uma delas, já na primeira consulta ela sugeriu agendar a cesárea pro dia 29 de dezembro, assim que completasse 38 semanas. Na segunda, teria consulta com a outra. Pensei em não ir, pois eu já tinha conseguido alguém pra me atender, mas alguma coisa me dizia pra ir naquela obstetra. Uma médica muito jovem, também grávida, me atendeu com muito carinho.

Comentei com ela que eu faria cesárea pois tinha medo de uma ruptura uterina. Ela sugeriu que eu pesquisasse mais sobre o assunto e conversaríamos melhor na próxima consulta dali 1 mês, me disse que o risco era mínimo e que eu poderia sim ter um parto normal, que seria muito melhor pra mim e pro bebê.

Voltei pra casa com um zumbido no ouvido, inquieta com a possibilidade, comecei a pesquisar, e muito! Adicionei a doula Fabi no facebook e fiz algumas perguntas a ela. Ela me recebeu de braços abertos, ela sugeriu que a gente se encontrasse no Luz Materna pra esclarecer um pouco mais dos meus questionamentos, assim eu fui, comecei as aulas de yoga para gestantes, entrei em um grupo no facebook de Parto Natural por indicação de uma outra amiga virtual, postei minhas inseguranças e outra doula, a Kika, me adicionou para conversarmos um pouco. A Fabi não poderia me acompanhar no parto pois estaria de férias perto da data provável, então fui conhecer a Kika pessoalmente. Um doce de pessoa, muito cativante, gostei dela logo de cara. Ali começava a se formar a minha equipe.

Às 24 semanas descobri que sim, era possível parir, que muitas mulheres haviam conseguido, mas que seria melhor um parto sem intervenções, sem indução, tudo teria que acontecer naturalmente. Foi aí que entrei no maravilhoso mundo do parto humanizado. Pesquisei dia e noite, todas as horas livres que eu tinha. Descobri todas as mentiras que tinham me contado.

Descobri a violência obstétrica, a qual fui submetida sem saber, descobri as intervenções desnecessárias e doloridas às quais sofreu a Lívia. Acontece que, uma vez que se descobre o nascimento com respeito e protagonismo da mulher no parto, não tem volta. Eu não aceitaria nada diferente pra mim e pra minha filha.

Passado um mês da última consulta com a obstetra que me incentivou a abrir os olhos, retornei ao consultório, munida de perguntas-chave pra descobrir se ela realmente era a favor do parto normal, e que tipo de parto ela acompanhava. Descobri que com ela eu teria um parto cheio de intervenções, se ela não mudasse de idéia no meio do caminho e me mandasse pra faca de novo. E assim me encontrei novamente sem obstetra, com 30 semanas de gestação. Comentei com as meninas no Luz Materna e com a Kika sobre a consulta, todas me apoiaram na busca de um obstetra humanizado. O problema era que nós não estávamos preparados pra esse investimento a essa altura do campeonato, mas eu sabia que jamais me perdoaria se deixasse escapar meu parto por entre os dedos novamente. Assim agendei consulta com duas obstetras que trabalhavam baseadas em evidências científicas. Mantive acompanhamento com as duas, pois aquela que era meu plano A também não estaria disponível perto da minha data provável de parto.

Já com uma equipe formada, pude respirar aliviada. Com 32 semanas, dois dias antes do chá de fraldas, acordei de madrugada com contrações acompanhadas de cólicas. Tentei dormir novamente mas não consegui. Assim que amanheceu o dia, contei ao Leandro o que estava acontecendo, pedi pra ele arrumar a Lívia pra escola enquanto eu tomava um banho pra ver se aliviavam as contrações. Durante o banho, as contrações foram ficando cada vez mais intensas e mais próximas uma da outra. Decidimos ir ao hospital. No hospital, descobrimos que estava com o colo do útero afinado e com 1 dedo e meio de dilatação. Passamos a manhã e um pedaço da tarde esperando pra ver o que aconteceria. As contrações foram espaçando até cessar. Tivemos alta com recomendação de repouso até segunda ordem.

As semanas demoravam a passar, não podia pegar a Lívia no colo, não podia caminhar por muito tempo, passava os dias assistindo a filmes e pesquisando mais e mais sobre parto humanizado. Finalmente chegamos às 37 semanas e fomos liberadas do repouso, agora era esperar pela nossa pequena. Eu estava disposta a esperar até 42 semanas pra decidir se iríamos induzir o parto ou não, mas as coisas estavam progredindo rapidamente. Com 39 semanas já estava com 3,5cm de dilatação, colo do útero apagado. Escrevemos nosso plano de parto cuidadosamente. Incrivelmente, todas as pessoas ao nosso redor pareciam mais ansiosas do que a gente com a espera. Todos os dias mensagens perguntando se já tinha nascido, enquanto curtíamos a deliciosa espera pela Alice. Ela viria no seu tempo.

Com 39 semanas e 5 dias, uma quinta-feira, tivemos o primeiro sinal de que ela estava pronta pra chegar. Fui dormir tarde naquele dia, por volta das 2h. Às 2h30 acordei com uma leve cólica e líquido molhando a calcinha. Fui ao banheiro, troquei a calcinha e coloquei um protetor pra observar. Deitei e tentei dormir novamente. Por volta das 3h, novamente, mais uma cólica e mais líquido encharcando a calcinha. Ainda era muito cedo, mas eu sabia que conheceria minha pequena Alice antes do fim do dia. Sem conseguir dormir, mandei uma mensagem às 5h pra Kika avisando que havia chegado a hora, mas que ela poderia ainda esperar em casa até que a gente a chamasse.

Com os primeiros raios de sol, avisei minha mãe que havia chegado o dia, mas que ainda demoraria, pra ela avisar meu irmão e relaxar. Voltei pra minha casa e entrei no chuveiro pra curtir minhas contrações e o barrigão pela última vez. A cadantração, mais um pouco de líquido e de sangue. Estava tranquila, tudo estava indo bem. O Leandro arrumou a Lívia para a escolinha e a levou ao banheiro pra se despedir de mim. Beijei meu tesouro, expliquei que a mamãe sairia por uns dias pra buscar a maninha e pedi que ela se comportasse, chorei pela primeira vez. De emoção por tudo o que estava acontecendo e de culpa, por tê-la privado de escolher a sua hora de vir ao mundo e tê-la feito passar por tanto sofrimento nos primeiros minutos de vida.

Fiquei no chuveiro por cerca de 1h30, então às 9h pedi pro Leandro ligar pra Kika vir pra nossa casa. As contrações já estavam com 6 minutos de intervalo e bem regulares, fiquei de quatro apoios na cama pra cochilar nos intervalos, pois não havia descansado nada e sabia que ainda poderia demorar bastante. As contrações vinham, eu erguia o corpo e esperava passar, assim que passava, deitava novamente e cochilava. Comia um pouco de gelo e bebia água de côco pra manter o corpo hidratado. Perto das 10h a Kika chegou, nos abraçamos e trocamos sorrisos. O Leandro preparou uma bolsa de água quente e a Kika a amarrou com o rebozo na minha barriga, o que aliviou muito as cólicas. A cada contração, meu corpo se erguia e alongava. Não conseguia mais cochilar. Contamos o intervalo de 4-5 minutos entre cada contração e decidimor ir para o hospital, pois não sabíamos como seria o caminho e tinha bastante chão pela frente.

Fomos para o hospital no carro da Kika, fui ajoelhada no banco de trás com ela, o Leandro dirigindo e minha mãe dando as coordenadas. Assim que pegamos a estrada, chorei pela segunda vez, dessa vez de emoção. Não conseguia acreditar que eu havia conseguido chegar até ali, não conseguia acreditar que eu ia ter o parto que sempre sonhei, não conseguia conter as lágrimas diante do poder da natureza e do corpo. Um filme novamente passou na minha cabeça, tudo o que havia lutado pra chegar até aquele momento valera a pena. A estrada estava tranquila, vocalizava e me alongava a cada contração, a Kika me ajudava a lembrar de não tensionar os músculos e a respirar. Tentamos algumas vezes ligar pra minha obstetra plano A no caminho, mas o celular dela estava sempre desligado. Decidimos então avisar a obstetra plano B. A Kika logo conseguiu falar com ela, e ela nos encontraria no hospital.

Logo chegamos ao hospital, perguntamos na recepção se poderíamos subir pra ala obstétrica e a recepcionista perguntou se era urgente. Uma contração respondeu à pergunta dela. Minha mãe, que estava quase parindo, finalmente respirou aliviada, e eu pude me entregar em paz. Passamos pela triagem, estava com 5-6cm de dilatação, ainda rindo e conversando tranquilamente, as dores estavam suportáveis. As ondas das contrações vinham, e eu as abraçava. Não conseguimos contatar a obstetra plano A e logo a plano B chegou, conversamos um pouco, ela me examinou, auscultou o coração da Alice, estava tudo ótimo. Fomos para a sala de parto. Assim que entramos, pedi para ir pro chuveiro. Fiquei um pouco com a água morna caindo nas costas e fui fazer a primeira dose do antibiótico pelo strepto positivo. Tinhamos combinado que eu não ficaria com acesso venoso se não quisesse, e eu não queria, mas como já estava há muitas horas sem comer e sem dormir, pedi um soro glicosado, que foi retirado assim que pedi. Fiquei rebolando na bola algum tempo, não sei quanto pois fiquei de costas para o relógio, queria me desligar de tudo. Quando ja estava com 7-8cm, a obstetra plano A ligou para o celular da Kika e falamos brevemente ao telefone, ela queria saber se ela precisava ir ainda ou se estava tudo bem, decidimos que a plano B continuaria me acompanhando, estávamos nos dando bem, estava tudo como eu sempre quis. Luz baixa, silêncio, massagens da Kika, tudo maravilhoso.

A obstetra e a Kika sugeriram que eu agachasse durante as contrações pra ajudar a Alice a descer, assim fizemos. A Kika me apoiava, eu agachava alongando o peso das minhas costas nos ombros dela. Urrava como uma leoa. Quando terminou uma contração, a Kika me perguntou de 0 a 10, quanto estava a escala de dor, respondi "hum, acho que uns 7". Todos rimos. Quase 9cm de dilatação e a dor ainda estava no 7. Ironicamente, a próxima contração foi um 10 na escala, e assim foram as seguintes. Desse ponto em diante, não lembro muito bem da ordem dos fatos. Lembro de alguém falando "anestesia agora não parece uma má idéia, né?" e eu respondi "cesárea agora não me parece uma má idéia", ainda tinha um restinho de senso de humor pra fazer piadas, mesmo com as contrações vindo uma em cim da outra.

Ouvimos um pouco de música, e Nando Reis me fez chorar novamente. "Por onde andei enquanto você me procurava?", sentia que era a Alice cantando pra mim, minha pequena cura. No próximo exame de toque, a feliz notícia de que estava com 9, quase 10cm. Chegava a hora. Mas eu só queria dormir um pouco. Estava exausta, com dor, suada, com fome e sem vontade de comer, e tremendo de frio (ou nervosismo). Pedi pra ficar novamente de quatro na cama e chochilava a cada intervalo de contração, assim se passaram quase 2h, pelo que me contaram. As contrações começaram a espaçar e a obstetra sugeriu que eu voltasse a me movimentar, mas o humor já tinha ido embora pelo ralo, e eu negava tudo, só queria descansar mais um pouquinho, e fazia "shh" pra todos ficarem quietos quando vinha mais uma onda de contração, reclamava que estava ardendo, "Ana, tu sabe o que é isso, tu estudou!", disse a Kika. A partolândia existe, e eu só percebi que conheci depois do nascimento.

Depois de algum tempo, comecei a chorar de dor, de cansaço, só queria que tudo acabasse, só queria minha pequena nos braços. Chorei e fraquejei. Disse que eu não aguentava, que eu queria anestesia, que eu PRECISAVA de anestesia. Todos ali sabiam que era a hora da covardia falando, a obstetra me disse que não tinha anestesista de plantão e que levaria uns 20 minutos pra ele chegar, que se eu quisesse mesmo tudo bem, mas que a Alice já teria nascido até lá. No fundo, eu sabia que eu não precisava disso, eu não queria isso. Autorizei mais um exame de toque e, sim, estávamos com 10cm, Alice a 1,5cm de nascer.

"Só depende de mim", me disse em pensamento. Era a injeção de ânimo que eu precisava. Levantei da cama e começamos a procurar a posição que eu me sentisse mais confortável. Vinha a contração, a Kika me segurava por debaixo dos braços e eu agachava. Passava a contração, e eu me encostava na bola. Assim fomos, não sei por quanto tempo. Quando a Alice coroou, a voz animada e emocionada da obstetra me deu mais uma injeção de ânimo: "Ana, ela ainda está na bolsa! Ela ainda está na bolsa!". Mais algumas contrações, e saiu a cabecinha empelicada da minha pequena. Continuei fazendo força, mesmo sem sentir vontade. A Kika e a obstetra me perguntavam se eu estava sentindo o puxo, eu não sentia, mas por desespero, continuava fazendo força. Logo senti todo o corpinho da Alice escorregando. Às 17h41 daquela quinta-feira ensolarada, "nasceu!", eu disse em meio a risadas.

A bolsa tinha furado perto do bumbum da Alice, mas não tinha rompido 100%. Minha jóia nasceu dentro da bolsa, com uma circular de cordão. Imediatamente veio para o meu colo e fez xixi e coco. A emoção foi tanta, foi tão inacreditavelmente lindo que eu não chorei, eu sorri. Sorri ao namorar minha pequena. Sorri ao vê-la mamando assim que nasceu. Alice nasceu com 48,5cm e 3,610kg, e o cordão foi cortado pelo pai depois que parou de pulsar. Alice não teve intervenções desnecessárias, não foi aspirada e não recebeu o colírio de nitrato de prata. Uma bolinha cor-de-rosa, que, diferente da irmã, que chorou a plenos pulmões assim que foi tirada de dentro de mim, não chorou ao nascer. Apgar 9/10.

Depois de nos namorarmos bastante, levaram a Alice pra pesar e medir, e a obstetra suturou os 12 pontos de laceração natural que tive. Pari a placenta, a olhamos com muito carinho, agradecendo internamente por ter nutrido tão bem minha bolinha. Eufórica, queria levantar e tomar banho, mas sofri uma queda de pressão e não consegui levantar da cama. Dormi por alguns minutos, até que o Leandro trouxesse a Alice novamente pra mim. Por protocolo do hospital, ficamos 2h no pós-operatório, onde comi e bebi, e logo subimos pro quarto. Assim que chegamos, pude tomar meu banho tranquila, sentar na cama e amamentar com toda calma minha bezerrinha.

Hoje fez 1 mês que a Alice veio pra alegrar mais ainda nossas vidas. É estranho agradecer por ser tratada com respeito, mas gratidão e carinho é o que eu carrego no meu peito hoje, por todos os profissionais que estiveram ao nosso lado nesse renascimento, por terem nos tratado com tanto respeito.

Hoje eu posso dizer: o parto não é só do bebê, é da mãe também. Renasci ao colocar minha filha no mundo. Somos mulheres, somos fortes, sabemos parir. Não deixem que um médico acomodado e desatualizado roube esse momento da vida de vocês. Informação é o maior remédio contra o medo. Leiam, busquem, informem-se e agarrem o nascimento dos seus filhos com unhas e dentes, não deixem que ninguém tire isso de vocês sem que haja necessidade. Não, via de parto não faz ninguém mais ou menos mãe, mas é a experiência mais extraordiária que uma mulher pode ter. Tomem as rédeas de seus partos, das suas vidas.

Como uma leoa, este é meu grito de renascimento: eu consegui! eu PARI!

Um beijo enorme às agradáveis surpresas que a vida me trouxe: Kika DoulaKarla Brouwers, vocês são demais! Não consigo pensar em equipe melhor pra ter ficado ao meu lado nesse momento tão precioso.